22/11/2013

Conceito de esquerda



Miguel Mota
Como é sabido, os conceitos de “esquerda” e “direita”, em política, começaram durante a Revolução Francesa, em 1789, na Assembleia Nacional, em que se sentavam à direita do Presidente os defensores dos privilégios dos nobres e do rei e, à esquerda, os defensores do povo, que usavam o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.
Adaptados aos tempos actuais, esses conceitos podem exprimir-se pelas acções que as pessoas ou os partidos defendem, se não estão no poder, ou que praticam, se estão no poder. Dum escrito antigo transcrevo:
...podemos dizer que são acções de esquerda as nacionalizações, a redução do leque salarial (na extrema esquerda os salários seriam todos iguais), saúde, educação e protecção na velhice como encargos do estado, predomínio do trabalho sobre o capital (na extrema esquerda não pode haver capital privado), impostos altamente progressivos, em que quem tem mais paga proporcionalmente mais e quem tem muito mais paga proporcionalmente muito mais, etc. Por oposição, são de direita as privatizações, um grande leque salarial (desde salários de miséria a salários muito altos), saúde, educação e protecção na velhice como negócios privados, predomínio do capital sobre o trabalho, impostos pouco progressivos ou, até, todos a pagarem a mesma percentagem, etc.”

Assim, é na base das acções que praticaram quando exerciam  poder que vamos avaliar os partidos e as pessoas, principalmente os Primeiros Ministros. Nos estados actuais há sempre acções de esquerda e acções de direita, sendo a proporção de cada uma que determina a sua posição, no espectro político. Quem praticou mais acções de direita não pode ser chamado “de esquerda”.

Do artigo atrás citado transcrevo:
O Partido Socialista “era” um partido de esquerda após o 25 de Abril, quando andava de braço dado com o Partido Comunista a fazer nacionalizações e actos do género e Mário Soares, na rua, de punho erguido, berrava “Partido Socialista, um partido marxista!”
Mas algum tempo depois o discurso já não era o mesmo e não tardou a abandonar o socialismo, antes mesmo de Mário Soares declarar expressamente que tinha “metido o socialismo na gaveta”. (Para ser coerente, a partir dessa data o partido deveria ter mudado de nome. Mas todos sabemos que os nomes dos partidos pouco ou nada significam).
Essa “ausência de esquerda” (virar à direita) continuou com Guterres, com várias acções de direita e, de esquerda, apenas o Rendimento Mínimo Garantido, de muito duvidosos resultados. Com Sócrates, alegadamente “socialista”, foi um regabofe de extinção de serviços públicos, para obrigar a dar negócio aos privados, reduziu os ordenados de quase toda a classe média e sobrecarregou-a com impostos, alargou o leque salarial, fez dezenas de PPP (parcerias público-privadas) para dar bons negócios aos privados (beneficiários e não concessionários, como lhes chamam), com elevados lucros garantidos, à nossa custa. Colocou as finanças públicas em estado tão lastimável que teve de submeter o país â humilhação da troika e duma astronómica dívida, porque, segundo declarou, se o não fizesse não haveria dinheiro para pagar ordenados e pensões. Não disse que não haveria dinheiro para pagar às tais PPP , nem para dar aos partidos, nem para dar às fundações ditas “privadas”, nem para pagar “pareceres” caríssimos, nem para as milhentas e absurdas mordomias. Governou, portanto, como extrema direita.

O “Expresso” tem, nos seus dois últimos números, apresentado crónicas sobre as próximas eleições presidenciais e uma grande lista de potenciais candidatos. Essa lista está dividida em duas, uma com os candidatos que considera “de esquerda” e a outra dos candidatos “de direita”. Entre os “de esquerda” está Sócrates...
É muito bizarro o conceito de ”esquerda” que vigora em Portugal!