20/10/2013

QUEM SERÁ O PRÓXIMO ODIADO?

Tereza Halliday
Não morro de amores por presidente da república algum, mesmo aquele que, por consciência ou engano, eu tenha ajudado a eleger. São feitos do mesmo barro que eu, capazes de erros e acertos. Como cidadã, preciso ficar de olho neles e posso – graças à imperfeita mas imprescindível democracia - contar piadas a respeito de cada um e de todos, pouco me importando o partido que esteja em cima e os que estejam querendo subir. Político nasceu para ser matéria prima de cartunista. E, em país onde não se pode contar piadas sobre eles, sem ser preso como subversivo, a vida fica mais perigosa do que já é.
Não obstante, respeito o cargo de Presidente, não importa a pessoa que o ocupe. Questão de civilidade e apreço pela Presidência, nem sempre honrada por certos ocupantes.   E não me enfureço com as ações e omissões deletérias de cada um deles porque seria conferir-lhes poder demais sobre mim – o poder de tornar-me raivosa. Isto é uma posição pessoal e minoritária, porque odiar o presidente da república é um esporte praticado por muitos brasileiros descontentes. Expressar essa raiva de maneira vitriólica tornou-se estratégia de certos usuários da Internet. Presidentes costumam ser alvo de atiradores de pedras virtuais – pedras que servem de argumentos contra, mas de pouca credibilidade.  Expressam mais o estado dos hormônios de quem postou ou repassou, do que uma crítica bem construída.  A Geni, da música antológica de Chico Buarque já se chamou José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Luís Inácio e, agora, Dilma. Lembro de grafitti propondo o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso – cega e irresponsável maneira de usar da liberdade de expressão negada em lugares onde fuzilamento é a maneira de se livrar de inconformados.
Gasta-se mais cliques postando e repassando mensagens destrutivas sobre presidentes ou candidatos à presidência do que em mensagens construtivas defendendo o candidato que o palanqueiro de Internet considere o melhor. Campanha eleitoral é como futebol: muita emoção, muito barulho, pouca racionalidade. Põe-se mais adrenalina em derrubar o opositor do que em ajudar o outro a subir, com argumentos bem fundamentados. Por isto, quando recebo mensagens cheias de ódio, desejo de vingança, indignação desvairada,  deleto imediatamente.  Considero que o remetente está usando meu precioso tempo a fim de fazer sua psicoterapia de graça. Não aceito essa tentativa de persuasão rasteira. Só valem para mim argumentos que tiverem um mínimo de bom senso e boas razões para acreditar neles.  Vômito de indignações desvairadas não me convence. Contudo, a natureza do eleitor com dor de corno – sempre sentindo-se traído -  direcionará para o próximo presidente eleito a fúria construída ao longo do mandato.  O alvo poderá ser Dilma (de novo), Eduardo, Marina, Aécio, ou quem quer que porte aquela faixa presidencial em janeiro de 2014. Em pouco tempo, será o odiado de plantão.