Tereza Halliday |
Não morro de amores por presidente da
república algum, mesmo aquele que, por consciência ou engano, eu tenha ajudado a
eleger. São feitos do mesmo barro que eu, capazes de erros e acertos. Como
cidadã, preciso ficar de olho neles e posso – graças à imperfeita mas
imprescindível democracia - contar piadas a respeito de cada um e de todos,
pouco me importando o partido que esteja em cima e os que estejam querendo
subir. Político nasceu para ser matéria prima de cartunista. E, em país onde não
se pode contar piadas sobre eles, sem ser preso como subversivo, a vida fica
mais perigosa do que já é.
Não obstante, respeito o cargo de
Presidente, não importa a pessoa que o ocupe. Questão de civilidade e apreço
pela Presidência, nem sempre honrada por certos ocupantes. E não me enfureço
com as ações e omissões deletérias de cada um deles porque seria conferir-lhes
poder demais sobre mim – o poder de tornar-me raivosa. Isto é uma posição
pessoal e minoritária, porque odiar o presidente da república é um esporte
praticado por muitos brasileiros descontentes. Expressar essa raiva de maneira
vitriólica tornou-se estratégia de certos usuários da Internet. Presidentes
costumam ser alvo de atiradores de pedras virtuais – pedras que servem de
argumentos contra, mas de pouca credibilidade. Expressam mais o estado dos
hormônios de quem postou ou repassou, do que uma crítica bem construída. A
Geni, da música antológica de Chico Buarque já se chamou José Sarney, Fernando
Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Luís Inácio e, agora, Dilma. Lembro de
grafitti propondo o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso –
cega e irresponsável maneira de usar da liberdade de expressão negada em lugares
onde fuzilamento é a maneira de se livrar de inconformados.
Gasta-se mais cliques postando e
repassando mensagens destrutivas sobre presidentes ou candidatos à presidência
do que em mensagens construtivas defendendo o candidato que o palanqueiro de
Internet considere o melhor. Campanha eleitoral é como futebol: muita emoção,
muito barulho, pouca racionalidade. Põe-se mais adrenalina em derrubar o
opositor do que em ajudar o outro a subir, com argumentos bem fundamentados. Por
isto, quando recebo mensagens cheias de ódio, desejo de vingança, indignação
desvairada, deleto imediatamente. Considero que o remetente está usando meu
precioso tempo a fim de fazer sua psicoterapia de graça. Não aceito essa
tentativa de persuasão rasteira. Só valem para mim argumentos que tiverem um
mínimo de bom senso e boas razões para acreditar neles. Vômito de indignações
desvairadas não me convence. Contudo, a natureza do eleitor com dor de corno –
sempre sentindo-se traído - direcionará para o próximo presidente eleito a
fúria construída ao longo do mandato. O alvo poderá ser Dilma (de novo),
Eduardo, Marina, Aécio, ou quem quer que porte aquela faixa presidencial em
janeiro de 2014. Em pouco tempo, será o odiado de plantão.