23/09/2013

REBELDIA PACÍFICA

Teresa Halliday
Desde mocinha que resisto a fazer certas coisas “como todo mundo”.  Também sofro de conformismo, em certos momentos ou assuntos. Mas me apraz fazer diferente, desde que não fira a lei nem faça mal a ninguém. Não quero ser induzida, pressionada, impelida a certo comportamento comunicativo somente porque é moda ou costume.

No dia 7 de setembro de 2013, dei pequeno grito de independência. Independência das telinhas e telonas.  E tive um feriado maravilhosamente calmo e centrado, rico de atividades, silêncio, convivência. Não ouvi nem vi noticiários, nem cenas do desfile militar, nem reportagens, ao vivo, dos protestos.  Mas sabia que, na minha cidade, haveria o Grito dos Excluídos, a pedalada dos ciclistas nus e a caminhada de diversos grupos em prol ou contra isto ou aquilo. Sinais de que estamos numa democracia, por mais destrambelhada que seja.  Ex-ciclista, ainda de olho comprido para as magrelas, até que me apeteceria o protesto sobre duas rodas, com ou sem roupa.  Mas multidão não é a minha praia, nem mesmo na praia.

Não vi na TV nem online os cartazes espirituosos, nem as cenas de vandalismo, nem a inabilidade da polícia para lidar com protestadores pacíficos, ou briguentos mascarados e descarados. Não me agitei com os comentários de repórteres, cumprindo sua missão informativa, mas também opinando pela imagem e pelo tom da voz.  Li, no jornal, de véspera, o que ia acontecer. Li, no jornal do dia seguinte, tudo o que aconteceu. E mais os comentários deste ou daquele entendido nas implicações políticas, econômicas, psicológicas e sociológicas dos eventos e suas entrelinhas. Noticiário de TV e Internet não tem de fazer parte da minha dieta diária. É item de consumo ocasional.

Fiquei por dentro de tudo, mas sem overdose de adrenalina, tão incentivada pela mídia eletrônica.  Bem que o médico de minha tia desaconselha a ver telejornais. Fazem mal aos nervos e à alma, com sua intensidade e rapidez de fala, imagem e som, podendo até causar dependência. “Mas você não tem curiosidade?” perguntam alguns, atônitos. Naquele feriado, matei a curiosidade toda pelo jornal, no meu passo de leitura, sem interrupção de propagandas que  fazem de tudo para envolver-me nalgum ato de compra e distrair-me de pensar sobre as notícias. Como leitora de jornais e revistas comando o processo de adquirir informação. Ora contristada pelos erros de Português que jornalistas não devem cometer, ora deleitada quando encontro um bom texto, claro, conciso, elegante, capaz de ajudar-me a entender o que se passa.

Minha preferência pela palavra escrita em papel parece anacrônica. Afinal de contas, texto, nesta década do século XXI, é para ser lido em telinhas de i-pads, i-phones e quejandos. Mas, enquanto as mídias tradicionais e as mais modernas conviverem, quero Internet e quero jornal de papel.  E celebrarei cada dia como o Dia da Independência de não fazer como todo mundo.  Pequena felicidade que não tem preço. (Diário de Pernambuco, 23/9/2013)