Teresa Halliday |
Desde mocinha que resisto a fazer certas
coisas “como todo mundo”. Também sofro de conformismo, em certos
momentos ou assuntos. Mas me apraz fazer diferente, desde que não fira a lei nem
faça mal a ninguém. Não quero ser induzida, pressionada, impelida a certo
comportamento comunicativo somente porque é moda ou costume.
No dia 7 de setembro de 2013, dei pequeno
grito de independência. Independência das telinhas e telonas. E
tive um feriado maravilhosamente calmo e centrado, rico de atividades, silêncio,
convivência. Não ouvi nem vi noticiários, nem cenas do desfile militar, nem
reportagens, ao vivo, dos protestos. Mas sabia que, na minha
cidade, haveria o Grito dos Excluídos, a pedalada dos ciclistas nus e a
caminhada de diversos grupos em prol ou contra isto ou aquilo. Sinais de que
estamos numa democracia, por mais destrambelhada que seja.
Ex-ciclista, ainda de olho comprido para as magrelas, até que me
apeteceria o protesto sobre duas rodas, com ou sem roupa. Mas
multidão não é a minha praia, nem mesmo na praia.
Não vi na TV nem online os cartazes
espirituosos, nem as cenas de vandalismo, nem a inabilidade da polícia para
lidar com protestadores pacíficos, ou briguentos mascarados e descarados. Não me
agitei com os comentários de repórteres, cumprindo sua missão informativa, mas
também opinando pela imagem e pelo tom da voz. Li, no jornal, de
véspera, o que ia acontecer. Li, no jornal do dia seguinte, tudo o que
aconteceu. E mais os comentários deste ou daquele entendido nas implicações
políticas, econômicas, psicológicas e sociológicas dos eventos e suas
entrelinhas. Noticiário de TV e Internet não tem de fazer parte da minha dieta
diária. É item de consumo ocasional.
Fiquei por dentro de tudo, mas sem overdose de
adrenalina, tão incentivada pela mídia eletrônica. Bem que o
médico de minha tia desaconselha a ver telejornais. Fazem mal aos nervos e à
alma, com sua intensidade e rapidez de fala, imagem e som, podendo até causar
dependência. “Mas você não tem curiosidade?” perguntam alguns, atônitos. Naquele
feriado, matei a curiosidade toda pelo jornal, no meu passo de leitura, sem
interrupção de propagandas que fazem de tudo para envolver-me
nalgum ato de compra e distrair-me de pensar sobre as notícias. Como leitora de
jornais e revistas comando o processo de adquirir informação. Ora contristada
pelos erros de Português que jornalistas não devem cometer, ora deleitada quando
encontro um bom texto, claro, conciso, elegante, capaz de ajudar-me a entender o
que se passa.
Minha preferência pela palavra escrita em
papel parece anacrônica. Afinal de contas, texto, nesta década do século XXI, é
para ser lido em telinhas de i-pads, i-phones e quejandos. Mas, enquanto as
mídias tradicionais e as mais modernas conviverem,
quero Internet e quero jornal de papel. E celebrarei cada dia como
o Dia da Independência de não fazer como todo mundo. Pequena
felicidade que não tem preço. (Diário de Pernambuco,
23/9/2013)