31/07/2013

PACHECADA NO CONGRESSO


Tereza Halliday
Os membros do Congresso Nacional deram-se férias. Não podiam nem deviam. Segundo matéria neste jornal (DP, 18/7/2013, p.A6), “impedidos do direito de férias por não terem conseguido aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias a tempo, deputados e senadores ignoraram a proibição constitucional e entram em recesso branco, por decisão tomada em plenário.(...) Não haverá decisões nem sessões deliberativas até 31 de agosto”.

       Tadinhos! Depois de tanta trabalheira tentando proteger-se do “clamor das ruas”, fazendo de conta que vão diminuir seus privilégios e costurando alianças para as coisas continuarem do jeito deles, tiraram férias, que ninguém é de ferro! Justiça seja feita, alguns parlamentares manifestaram-se contra esse recesso, como o autor deste comentário, que pediu para não citar seu nome: “O mal foi feito, não tem o que esconder. A população queria agora provas de que foi ouvida e esse não é o sinal”. O sinal foi “não dou a mínima!” para os eleitores que lhes deram o emprego privilegiado de deputado ou senador. Eleitores que os contestaram e desafiaram, recentemente, nas ruas. Nos protestos, o Poder Executivo não recebeu pedradas sozinho. Os cartazes irônicos e contundentes também se dirigiam ao Poder Legislativo.

        Por precaução, os parlamentares foram orientados a proteger-se do olhão da mídia e dos puxões de orelhas de todos nós, seus empregadores. Foram aconselhados a evitar “fotografias de feriado”, a não ser flagrados “divertindo-se no exterior ou descansando na praia”.  Segundo alentado humorista, a hipocrisia é o imposto que o vício paga à virtude. Os nossos pseudorepresentantes vão curtir discretamente coisas gostosas que podem ser feitas no interior do quarto, apartamento, mansão. Afinal de contas, eles se importam um pouquinho com o que pensamos deles. Por isto, abriram licitação para encomendar pesquisa de opinião a seu respeito.

       Com essas férias extemporâneas, os parlamentares fizeram uma pachecada – termo derivado de Pacheco, personagem de Eça de Queiroz, pomposo, ridículo e medíocre; sinônimo de asneira, dislate, despautério. O que os torna matéria prima excelente para os cartunistas, com as sempre honrosas exceções: aqueles congressistas sérios e dignos, que só transigem um tiquinho de nada, porque faz parte da profissão. A fim de acompanhar seus feitos e malfeitos, acessem http://olhonasemendas.com.br/ (em cache) e http://www.votonaweb.com.br. Felizes férias, Excelências!     (Diário de Pernambuco, 29/7/2013).


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"Se avexe não, amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.

(Accioly Neto)