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Miguel Mota |
Os antigos imperadores romanos
usavam o pão e o circo para entreter os seus povos e os distrair das políticas
que tantos danos lhes causavam. Ficou célebre a frase que chegou até nós nas
“Sátiras” de Juvenal “panem et circenses”.
Os governos portugueses e muito
particularmente desde 2005, quando se entrou em grande numa gestão extremamente
danosa – crime previsto no Código Penal, Artigo 235º, salvo erro – que pôs o
país à beira da bancarrota e levou o governo PS a submeter o país à extremamente
humilhante e grandemente prejudicial situação de ter aqui banqueiros
internacionais a governarem o país, usam uma regra ligeiramente diferente.
Tiram aos cidadãos o pão e deixam-nos fazer o circo.
O sistema tem provado bem para os
governantes. Os enormíssimos danos causados ao país em geral, colocando-o numa
situação de mendicante; o espantoso corte no nível de vida da maior parte dos
portugueses, que, tudo incluído, deve ser superior a 50%; tudo isto com as mais
pavorosas consequências de falências, penhoras dos que, em consequência desses
cortes, deixaram de poder satisfazer os encargos dos empréstimos (e não, como
são acusados, por se endividarem “estouvadamente”); o desemprego, que atingiu
níveis inconcebíveis e para atenuar o qual não querem aplicar nenhuma das duas
sugestões que apresentei; uma recessão, causada pelos que prometiam crescimento
económico, não levou ainda aos estados de desespero que tal situação deveria
causar.
Os governantes estabeleceram desde
cedo – após a ditadura comunista do PREC e com a aprovação sem referendo duma
Constituição tremendamente antidemocrática – uma excelente válvula de escape: deixam
que os cidadãos berrem e insultem à vontade. Isto, especialmente depois duma
outra ditadura que não permitia a livre expressão, com uma censura (aliás
bastante estúpida e ineficaz) que cortava parte do que os jornais queriam
publicar, etc. dá aos cidadãos uma impressão de “democracia”. Mas o sistema,
pela tal Constituição e especialmente os Artigos 149º e 151º, está muito bem
blindado, de forma que só é eleito, para a Assembleia da República e,
consequentemente, para a chefia do governo, quem meia dúzia de ditadores,
chefes de partidos, deseja. Os ingénuos cidadãos nem reparam que têm toda a
liberdade... de escolher alguns entre os que os ditadores nomearam candidatos.
E até acham que têm eleições livres!
Assim, por muito que desejem
derrubar um governo, mesmo sem qualquer esperança – como se tem visto – de que
o próximo seja melhor, com essas aberrações de círculos plurinominais – para
alguns círculos um grande número dos candidatos dos maiores partidos está
eleito à partida, algo que não existe em democracia, salvo nos casos de
candidato único – e de listas imutáveis e com ordem fixa, os ditadores têm a
certeza de repartir entre eles a governação de Portugal.
Há apenas uma eleição democrática
em Portugal: para o Presidente da República. Deve ter sido dada essa liberdade
porque se trata dum cargo de grande projecção mas de escasso poder. Os que
apelam ao Presidente da República para
que ele lhes resolva certos problemas, não sabem os poderes que a Constituição
lhe atribui.
A “válvula de escape”, conjugada
com o martelar de que isto é democracia (como se sabe, uma mentira repetida
muitas vezes passa a parecer verdade) tem prolongado esta ditadura quase por
quatro décadas.
Recentemente, surgiu uma nova
ajuda ao sistema. Em vez de manifs com alguns protestos violentos, surge uma
muito ordeira e a cantar “Grândola vila morena...” Como a insatisfação é
enorme, teve grande adesão e bem se viu quem a organizou. A ajuda veio do dito
popular “quem canta seus males espanta”. Certamente muitos, cansados de tanto
cantar, foram para casa satisfeitos... porque puderam protestar. Não viram que,
na realidade, além de muito espetáculo, nada conseguiram.
Até quando o sistema vai ser
eficaz antes da explosão, é que é difícil de prever.