11/04/2013

Miguel Sousa Tavares foi contundente no CdP

Miguel Sousa Tavares foi o convidado de Joaquim Jorge no Clube dos Pensadores ( CdP) para um debate sobre o momento político atual. Após a apresentação do convidado, um prestigiado escritor português e jornalista de enorme craveira, Miguel Sousa Tavares começou por perguntar como é que um país que precisou de 3 resgates nos últimos 30 anos não aprendeu a lição? E elencou o que considera os três males endémicos da sociedade portuguesa: (i) a dependência do Estado; (ii) a dependência das corporações e (iii) a inveja.

MST fez comparações com os EUA, país que não é a “menina dos seus olhos”, mas que tem um profundo respeito. Passou lá algum tempo para conhecer aquela realidade e constatou que são uma grande democracia com responsabilidade e se cultiva o mérito, exatamente o contrário de Portugal onde impera a cunha, desde os descobrimentos.
Se antes era o monopólio dos negócios da Coroa, com Salazar veio a dependência do Estado, que perdura até hoje. Logo no 25 de Abril, o gonçalvismo veio dizer isso mesmo. As empresas e empresários vivem dos favores do Estado. A nossa constituição só elenca direitos dos cidadãos, que num ápice viram obrigações do Estado. Não há um artigo de deveres dos cidadãos para com a sociedade, como diria JF Kennedy nos EUA, não pergunte o que a pátria faz por si, mas o que você fará pela pátria.

A dependência das corporações inventadas por Salazar para controlar as profissões chegou até nós mas de forma diferente. Antes o Estado dominava as corporações, mas hoje as corporações (sindicatos) capturaram o Estado. Nada se muda ou altera sem que se levante um coro de protestos porque tudo é específico e único e tem de haver exceção.
Finalmente a inveja, característica dos portugueses, muito bem descrita por diversos autores clássicos. Segundo MST, começou com Aljubarrota. É uma verdadeira coligação dos medíocres que se levantam contra os competentes.

Com este diagnóstico cristalino, que concordo, diz MST que os portugueses ainda não perceberam onde estão. Acha que o Estado não pode suportar as despesas sociais e de saúde ao nível atual porque não tem capacidade de gerar receitas para o efeito e deve discutir o Estado Social com critérios de racionalidade económica. O Estado deve servir os mais pobres, seja em que área for. A receita adotada por Gaspar, um ministro que só sabe duas operações matemáticas (somar e subtrair) vão levar o país à ruína total, porque o que deveria ser feito é o oposto, receitas em contraciclo. Aliás, como recomendam os maiores economistas mundiais que têm estudado as crises das dívidas soberanas.
Sobre os salários dos políticos MST disse que há uma hipocrisia na sua discussão pública, porque hoje os políticos ganham pouco e são expostos a um escrutínio da vida pessoal, que afugenta os competentes. Deste modo não há como atrair os melhores para a causa pública, que poderiam resolver as graves questões com que o país se depara. Por isso, Portugal vê-se confrontado em ter os ministros que tem, liderados por um jotinha, com boas intenções e que acredita ser sério, mas só isso. E do lado da oposição a mesma situação, um líder jotinha do PS sem experiência e preparação para governar. Portanto não é nada animador a situação do país que também não conta com um PR à altura.

Cavaco, segundo MST, não é muito dado a atos de coragem. Foi assim ao longo da sua vida: bastante ambíguo na sua atuação. Após os desastres costuma dizer “eu avisei”, mas entretanto nada faz para impedir o colapso. MST, a pergunta feita da plateia sobre uma figura de relevo, respondeu que um político sério e competente foi António Guterres. Era um estudioso e tinha sentido de Estado, responsabilidade e sensibilidade. Sério o suficiente que não foi para a Administração de nenhuma EDP, PT, Lusoponte, etc…. como é normal na nossa praça.
O diagnóstico feito por MST é muito lúcido e assertivo, revelador do seu brilhantismo. Miguel Sousa Tavares é um exemplo de meritocracia. Filho de um grande político, trilhou o seu próprio caminho com o êxito que se lhe reconhece, contrário ao dos filhos dos nossos políticos, que ao nascerem já têm o cartão do partido e a matrícula na universidade Jota que lhes abre as portas da carreira como se fizessem um doutoramento em Oxford ou no MIT. Eles estão aí todos, com o resultado que se sabe.

JJ está de parabéns por ter feito este convite. Foi um dos melhores debates entre grandes debates do CdP. Uma noite muito bem passada, numa sala à pinha para ouvir e debater com um brilhante escritor e jornalista, Miguel Sousa Tavares.

Mário Russo