28/04/2013

A Estratégia para o Crescimento Económico de Portugal: Porque vai falhar

Mário Russo
O Ministro da Economia apresentou o que diz ser a Estratégia para o crescimento da nossa economia de 2013-2020. Tive o cuidado de ler os documentos em causa (a síntese e o de 83 páginas). Na verdade é um postulado de profissão de fé, sem estratégia, pois mistura conceitos e objetivos antagónicos. Reforço da investigação para 3.3% do PIB, ou seja, aumenta 200% o investimento numa economia de salários altos, que me parece correto, apostando na inovação e investigação. No entanto, a práxis tem sido a aposta numa economia de baixos salários (China europeia), em tirar dinheiro à FCT, cortar em instituições importantes como o IPATIMUP, do Prof. Sobrinho Simões e outros centros, cortar violentamente os orçamentos das Universidades e dos Politécnicos, sufocando-os.

Mas o que é dito no documento que mudaria Portugal?
“Os trabalhadores terão um nível médio de qualificações em convergência real com os outros Estados Membros da U.E. e competências alinhadas com as necessidades do mercado de trabalho”. Certamente que não é possível com a asfixia das instituições de ensino.

“As empresas terão capacidade e facilidade de acesso a crédito, bem como a outras fontes de financiamento, por forma a alavancar os seus capitais próprios e a garantir a sustentabilidade dos seus negócios”. Que é exatamente o contrário do que tem feito. Mais, o Governo não manda nas instituições de crédito. Não se juntou a outros países para exigir que o BCE financie os Estados, tal como faz com a finança particular, que reduziria o serviço da dívida em milhares de milhões de euros.
"Portugal terá um tecido empresarial consolidado, numa trajetória de crescimento sustentável e baseada num sólido processo de internacionalização”. Pura profissão de fé, digna de qualquer religião. Não disse como, e menos com as medidas tomadas.

“O nível global de investimento em Portugal será superior e estará concentrado nos setores produtores de bens e serviços transacionáveis, em resultado de uma criteriosa canalização dos apoios públicos e da redução das barreiras e entraves à entrada e aplicação de capital”. Se for por milagre estamos conversados.
“Aumentar o nível global de investimento em Portugal, dotando Portugal de um sistema de tributação das empresas mais moderno, mais estável e mais competitivo no plano internacional”. Vê-se mesmo que é assim, com o constante aumento de impostos e a deslocalização das empresas.

“Portugal terá visibilidade e reconhecimento global, enquanto produtor de bens e serviços diferenciados e de elevada qualidade, e as empresas portuguesas em estreita articulação com o  AICEP terão uma presença internacional competitiva”. Pura demagogia ou fé religiosa.
“Portugal será um polo de referências internacional para empreendedores, que encontrarão no País as condições necessárias para desenvolverem os seus projetos”. Digna de qualquer bispo da IURD.

Se apreciarmos a quantificação de metas anunciadas, então se nota o delírio: (i) “crescimento da economia a 2% ao ano”, ou seja, mais de 200% em relação ao passado; (ii) “exportações com peso de 50% no PIB”, que é quase 100% a mais ao observado; (iii) “posição top-5 no ranking Doing Business do Banco Mundial”, que é galgar mais de 120%.
Um cardápio de faraónicas ideias sem sustentabilidade e sem responsabilidade no seio dum governo desta natureza e com o histórico de cortes e de aumento de impostos astronómicos.

A economia portuguesa está a definhar a cada dia e precisaria de medidas em contra ciclo para ganhar algum folego. Os cortes feitos e os anunciados sempre do mesmo lado, impõem uma dieta à economia que a leva á morte. É uma questão de tempo. Basta manter Gaspar á frente dos destinos do país.
As boas intenções de Álvaro Pereira, mesmo que um pouco mais comedidas para ter adesão á realidade, esbarram precisamente com a ortodoxia ideológica da austeridade e pobreza salazarista de Gaspar, o chefe da governação.

Portanto, a Estratégia não é estratégia, porque não há uma visão coerente do que queremos ser até 2020, nem como atingi-la, mas um conjunto de linhas de força incoerentes no seio de um governo que teima em seguir e defender as ordens dos credores e de empobrecimento da população.