30/03/2013

Sócrates malabarista troca a vista aos espectadores

Mário Russo
José Sócrates volta dois anos depois de deixar o Governo emergindo do nevoeiro que paira sobre o país devastado e triste com a austeridade imposta por um governo cego, como se tratasse de D. Sebastião.

Quem pavimentou a entrada triunfal de Sócrates foi Passos Coelho e o seu fiel escudeiro Vítor Gaspar, que estão a escavar cada vez mais o buraco onde enterrar o povo português.

De facto, Sócrates está a tentar capitalizar o ódio que se abate sobre este Governo de incapazes que não conseguiram ainda perceber que a receita é suicida e nem conseguem convencer os extremistas de Bruxelas que o remédio é tóxico e perigoso.

Num quadro destes, Sócrates veio dizer o que todos querem ouvir. Chega de austeridade. Mas isso não é nada que já não tenha sido dito por investigadores reputados como Keneth Rougof, Paul Krugman ou Nouriel Roubini. Estes sim, sabedores e sérios. Nesta altura é uma verdade de Lapalisse.

Sócrates foi hábil em desviar as atenções dos podres da sua governação, manipulou os números das vergonhosas PPP e centrou-se em dois aspetos essenciais para ele: (i) que Cavaco foi desleal e fez uma campanha inqualificável com a célebre vergonha das escutas forjadas em Belém, e (ii) que não foi ele que cá meteu a Troika, mas este governo, ao precipitar as eleições quando tinha tudo acertado com Bruxelas e o BCE para o PEC IV, muito menos gravoso que o plano da troika.

Depois centrou-se em bater no governo de PPC, que não tem estratégia de comunicação. Disse que um governo que não dá esperanças ao seu povo está condenado.  E nisto ele tem toda a razão.

O que vai acontecer daqui para a frente? Não sei, mas vai baralhar o PS, o PSD, o CDS e confundir muita gente. Sobretudo, vai impulsionar a crispação política. José Seguro vai querer mostrar que é duro e vai passar a ser um radical inflamado.

Os seus comentários semanais serão um oráculo grego. Como é um manipulador compulsivo, vai dar azo ao governo para se defender e mostrar que os números que exibe são falsos ou manipulados, distraindo os portugueses. Vai retirar palco a Seguro, um inseguro e tonto líder temporário do PS e incomodar o PSD.

O palco da oposição estará semanalmente na RTP com José Sócrates a amealhar o descontentamento, engrossado cada vez mais com a horda de desiludidos e desesperados do crescente desemprego e miséria com que este governo de pequeninos condena o país.

Os outros comentadores de plantão também podem endurecer os seus comentários para não ficarem atrás ou passarão a atacar Sócrates e a desmenti-lo. Vai ser do bom e do bonito, como diz o povo. Revela, por outro lado, porque é que Portugal está onde está. Não tem líderes, mas capatazes.