Tereza Halliday * |
Como cria do judaísmo, o
cristianismo passou a celebrar outra páscoa, de grande transcendência: a
passagem de Jesus da morte para a Vida eterna, concedendo esse passaporte a
todos os cristãos. É o evento mais importante de toda a história
da doutrina cristã: a Ressureição. O Natal é lindo, mas é festa menor, ante a
magnificência da Páscoa. Como toda festa cristã, a Páscoa não deixou de
tingir-se e mesclar-se com elementos de festas pagãs: na Antiguidade, no fim do
inverno e começo da primavera, os pastores e camponeses se presenteavam com
ovos. Os de chocolate surgiram por volta de 1830, com a indústria do chocolate
na Inglaterra. E o ovo “pegou bem” como símbolo de promessa de vida, vida nova,
misturado com o coelhinho (símbolo de fertilidade) e a columba pascal - versão
pascoalina do panetone. E tome vendas!
Com a educação religiosa
fajuta em muitos lares ditos cristãos – seja “católicos do IBGE”, seja
evangélicos apenas portadores de bíblia – o sentido profundo da Páscoa passa ao
largo. Para as crianças dessas famílias, o ovo de chocolate é mais
importante do que Jesus. E nós, consumidores, com ou sem fidelidade a uma
religião, entramos na onda das diversas páscoas-passagens: a dos ovos de
chocolate, a do dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Natal e qualquer
passagem que sirva para engalanar vitrinas e seduzir compradores. Que a Páscoa
do Chocolate sirva, ao menos, para refletirmos sobre o discurso de sedução com o
qual nos envolvem os articuladores de todas as passagens comerciais no
calendário do consumo, atrelado a datas comemorativas de legítimas emoções.
Em tempo: chocolate,
para mim, não é uma “passagem”, é constante de gosto pela vida. Mas precisa ser
do bom e degustado sem alvoroço.
* Artesã de Textos ( Pernambuco)