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Daniel Braga |
DESAPARECIDO O LÍDER, DESAPARECERÁ O CARIZ PROFUNDAMENTE
IDEOLÓGICO E POPULISTA DO REGIME?
Morreu Chávez (uma personalidade,
aliás, por quem não nutria nenhuma simpatia, embora lhe reconhecesse algum
mérito) e com ele morre uma certa forma... truculenta de estar na política e de
fazer política que conquistou algumas simpatias em alguns países da América
Latina, nomeadamente no Peru, Equador e Colômbia e de uma maneira mais suave no
Brasil e na Argentina. Com a sua bandeira e com o slogan populista de estar
contra o "imperialismo" americano também conquistou votos de simpatia
em Cuba, no Irão e até na Coreia do Norte. É verdade que Chávez sempre teve com
a Europa mais um papel profilático e de encorajamento no reforço das relações
(onde o caso de Portugal foi o mais paradigmático) mas isso não invalida que,
embora no plano interno as coisas tenham corrido bastante bem no início, o seu
papel foi sempre uma pedra no sapato das chamadas grandes economias mundiais,
pois não nos esqueçamos que o Presidente desaparecido, nacionalizou quase tudo
o que havia para nacionalizar, não temendo o poderio das grandes empresas,
nomeadamente as poderosas empresas americanas. No plano interno, tudo se
agudizou e por que se viu nas últimas eleições ainda ganhas por Chávez, a
Venezuela está praticamente dividida ao meio, entre os seus apoiantes mais
fiéis e a oposição venezuelana. Com o seu desaparecimento não sei se Nicolás
Maduro - o seu sucessor - se aguentará e terá pulso para continuar a impor o
chavismo sem Chávez. Porque embora haja uma Venezuela "nova " em
muitos aspetos, ainda existe um lado negro de um País com uma grande
percentagem da população muito empobrecida, a quem não foram dadas
oportunidades nem soluções, sem perspetivas de um futuro melhor. Veremos se com
o andar da carruagem, o chavismo não se tornará apenas uma ilusão e um mito, e
Hugo Chávez não passará, de um dia para o outro, de lenda a vilão.