O CdP iniciou as atividades na Maia e logo sedeou-se em Gaia. Tinha tudo para dar errado. Joaquim Jorge não tinha empregos a dar nem outras benesses, como costuma dizer, mas a sua persistência e mestria em conduzir e dinamizar este conceito de cidadania inovador têm feito este caminho. Acutilante e certeiro nos convites a personalidades que pensam o país, sejam elas de esquerda, do centro ou da direita. Nunca ninguém foi condicionado. Hoje o CdP é uma referência Nacional. Por aqui passaram Homens como Manuel Alegre, Vicente Jorge Silva, Paulo Portas, Maria de belém Roseira, António José Seguro, Pedro Santana Lopes, Luis Filipe Menezes, Narciso Miranda, António Barreto, Pedro Passos Coelho, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, Carvalho da Silva, João Cravinho, Alexandre Soares dos Santos, Garcia Pereira, Manuel Monteiro, entre outros, que peço desculpa não citar.
CdP é marca de qualidade e a prova foi termos tido a comemorar o aniversário o Engº Belmiro de Azevedo. Melhor presente seria muito difícil. Um empreendedor e um vencedor, que fala pouco e certeiro. Quando aparece em público, seja onde for, há uma onda de pessoas a quererem ouvi-lo, pois inspira um certo ar messiânico, de D. Sebastião, como diz JJ. O debate iniciou com uma resenha biográfica do convidado, que Joaquim Jorge preparou, como sempre, muito bem. Salientou algumas das inegáveis qualidades deste Homem invulgar, cujo “job”, como disse, é criar a maior de todas as riquezas, empregos, reinvestindo a maior parte dos lucros, não distribuindo em alguns anos os dividendos para poder investir mais. De origem humilde, não tem a menor intenção de esconder, pelo contrário, gosta de realçar para demonstrar que o principal está dentro da nossa atitude.
Belmiro de Azevedo não surpreendeu, porque já se sabia que seria de facto uma lição o que ouviríamos na noite de debate do aniversário, e assim foi, uma lição de Gestão e de vida. Falou dos desperdícios dos dinheiros públicos aplicados em coisas não reprodutivas e no facto de não termos sabido fazer coisas simples como não gastar mais do que temos. Seria gerir com 2 gavetas, uma para as receitas e outra para o pagamento das contas e não teríamos chegado a esta crise.
Sintetizou em poucas palavras as medidas imediatas a concretizar para sairmos do buraco:
- Olhar para as potencialidades do território e explorá-las com sabedoria na agricultura, floresta e turismo. De facto, o território é propenso a ser alavancado no setor primário criando milhares e milhares de empregos a custos baixos e imediatos. Fazer o emparcelamento para se poder explorar convenientemente quer a agricultura, quer a floresta, que está quase abandonada. O clima ameno, a nossa costa marítima com as melhores praias da Europa, a segurança, os serviços, estradas (até em excesso) e low-cost dos transportes (a Ryanair fez mais pelo turismo de Portugal que todas as estratégias dos governos) são fatores a explorar para aumentar o turismo e as receitas.
- O outro fator de competição é a educação e a formação permanente ao longo da vida. Só assim é possível estar num mercado em constante movimento e alteração. O que era tecnologia há 20 anos, hoje é obsoleto e se não nos adaptarmos estamos fora do mercado e da competitividade. Deu o seu próprio exemplo de aprendizagem ao longo da vida. Quando começou com a aventura Optimus, teve formação em telecomunicações durante 2 anos para saber a fundo do “negócio”. As pessoas podem aprender sempre, dependendo da sua atitude.
Também deixou transparecer a esperança em dias melhores, ante várias perguntas que se lhe foram dirigidas. Disse Belmiro de Azevedo que no tempo em que ele era criança havia disputa por comida. Hoje nada é comparável. Referiu que há 20 anos a tecnologia usada nos rádios era uma, com ruídos e má qualidade. Hoje é totalmente diferente. Em poucos anos tudo muda e certamente podem acontecer coisas que mudam radicalmente a atual situação. Muito depende de nós e da nossa atitude. Há duas décadas não havia portugueses em lugares de destaque fora de Portugal. Hoje são milhares. OS jovens são bilingues e aptos a trabalhar em qualquer parte do mundo. Há, pois, esperança sim.
Sobre as constantes previsões erradas de Vitor Gaspar, Belmiro desculpou-o por não haver modelos de qualidade para fazer previsões em Portugal, como existe nos EUA, onde uma subida no petróleo é logo refletida no preço dos cereais, por exemplo, e daí na tomada de medidas rápidas. Mas aqui é onde discordo do Engº Belmiro de Azevedo. Ele foi generoso com Gaspar. Com efeito, um cientista que se preze aplica um modelo uma vez e vê se é adequado ou não e fará as correções necessárias. Mas os erros de Gaspar são demasiado grosseiros. A economia não é uma ciência exata, mas social. É preciso ajustar a realidade aos sinais que essa realidade mostra. Coisa que Gaspar não fez, ou não sabe. Para mim, por pura incompetência, porque a outra alternativa seria por má-fé, que julgo não ser o caso. Gaspar padece da humildade científica e é obcecado pelo seu excel, que aceita todas as asneiras.
Mas também o Engº Belmiro falou dos salários na função pública, que genericamente são baixos, mas alguns até altos demais para os respetivos titulares. Há gente na FP a ganhar mais do que merece e muitos demasiado incompetentes. Os baixos salários praticados em cargos importantes não conseguem aliciar e permitir recrutar os melhores, daí não ser novidade os falhanços que se constata na nossa governação. Devia, disse ele, haver vários salários mínimos, dependente dos cargos e nível de responsabilidade e salários que estimulassem que os melhores fossem recrutados.
JJ perguntou se Belmiro não gostaria de estar a governar, pois gostaria de o ver como Primeiro-Ministro, porque tem experiência e não precisa de provar nada a ninguém e ajudaria Portugal a ter um rumo. Mas Belmiro contornou muito bem a questão dizendo que não seria bom governante, porque nas empresas tudo tem um tempo e a decisão é rápida. Não podem as empresas darem-se ao luxo de esperar diante de um facto, porque o prejuízo é imediato. Até porque quando erram numa previsão, não podem tributar o cliente, como faz o Governo, que é lento e tributa muito, e quase sempre mal, não só muito, mas cegamente.
Mário Russo |
Um aniversário inolvidável. Parabéns Joaquim Jorge e Clube dos Pensadores.