Miguel Mota |
“Mas entendo o espírito que anima
esta grotesca interferência no “serviço público”: a ideia juvenil de que é
possível ressuscitar o nosso sector primário, devastado por Bruxelas com a
conivência de sucessivos governos, através da mera propaganda televisiva.
Infelizmente, não é: décadas de abandono dos campos não se revertem com odes
isoladas aos produtores que resistem por aí”.
De tudo isto só tem certo a má
actuação dos governos anteriores, em descarados e ruinosos actos de destruição,
que só foram um tanto travados pela actual ministra.
Bruxelas, mesmo com os vários
erros da PAC, não é a responsável pelo nosso descalabro nesse sector. Não
obrigou ninguém a arrancar vinhas ou a não cultivar. Se alguns que receberam
subsídios não souberam ou não quiseram dar-lhes destino certo não é da
responsabilidade da União Europeia. Os países europeus que vêm cá vender
produtos que tínhamos obrigação de aqui produzir estão sujeitos à mesma PAC.
Não só é “possível ressuscitar o
sector primário”, como é imperioso fazer essa recuperação, a bem da nossa
economia e, até, da nossa independência alimentar. É claro que não é só
“através da mera propaganda televisiva”, mas esta dá uma boa ajuda.
Parece que algo está a ser feito,
embora eu pense que já se poderia ter feito mais nestes dois anos. Nos muitos
escritos sobre o tema, tenho indicado o que julgo se podia e devia fazer, mesmo
com o reduzido know how que o ministério possui, comparado com o que tinha há
quarenta anos e eu considerava ser insuficiente para as necessidades do país. Como
tenho repetidamente indicado, é imperioso iniciar um “Plano Intensivo de
Investigação Agronómica e de Extensão Rural”, mesmo só coma prata da casa. Não
tenho notícia de que isso esteja a ser realizado.
A referência “aos produtores que
resistem por aí”, nalguns casos com bom êxito, é a melhor prova do que é
possível generalizar.
O programa “TV Rural” ensinava os
agricultores a fazer melhor agricultura e mostrava muitos aspectos mesmo para
quem não era agricultor e gostava de o ver. Bom será que ressuscite pois ele é
um elemento da extensão rural que, com a investigação agronómica, são as
alavancas do Ministério da Agricultura necessárias para fazer a nossa
agricultura dar uma maior contribuição
para a economia portuguesa.
Os nossos
economistas e alguns dos nossos jornalistas já mostraram grande ignorância (se
não for pior...) em relação à agricultura. Além de não saberem que é parte da
economia, como se prova com o nome errado que, desde Guterres, dão ao Ministro
do Comércio e Indústria (que é só Ministro de Parte da Economia), houve um que
considerou que a agricultura era apenas “residual”. Outro economista, quando
perguntado se a agricultura não poderia dar uma boa contribuição, declarou que
“no campo alimentar poderia dar um pequeno contributo” caso que comentei no LE
(Um "pequeno contributo",
24-6-2011). Um jornalista num jornal com as responsabilidades do “Expresso”,
declarou em 25-3-2000, que a seca intensa desse ano era “o ponto final da nossa
agricultura”. O título do artigo era mesmo “O fim da nossa agricultura”, que
também comentei no LE (Continuam muito
erradas as ideias sobre a Agricultura, 26-10-2011).
Não se deve
deixar que tais aberrações passem sem ser denunciadas. É que há pessoas que,
não estando dentro dos assuntos, até são capazes de as tomar como verdades.