08/02/2013

Crónica de Liverpool


Pedro Almeida
O trabalho dos políticos e a emigração

 António Costa, numa manobra política executada recentemente, decidiu refrear-se de concorrer ao lugar de Secretário Geral do PS, o que lhe daria hipótese de concorrer a primeiro-ministro, mas deixou recados a António José Seguro, para arrumar a suas ideias e deixar de ser evasivo, na forma como faz oposição a este Governo.
O que António Costa omitiu foram os esqueletos guardados no armário de cada ex-membro do Governo e que obriga o partido respectivo a estar calado, quando se encontra na oposição.

A razão por que os Governos que tomam posse não denunciam quase nada e não responsabilizam criminalmente os anteriores Governantes, é porque esta é a vez deles de comerem o bolo, que são os Impostos dos Portugueses.
Com a garantia de que, quando voltarem a ser oposição, não serão eles assombrados, com ameaças de investigação às suas actividades passadas.

Entretanto, as gerações emigram. Não há razão para ficarem zangados com PPC. Emigrar é uma coisa positiva. Aprende-se com os outros, seja na Europa ou por esse Mundo fora.
Os Portugueses estão feridos pelo apelo do Primeiro-Ministro à emigração, porque isso demonstrou ignorância e incompetência da parte dele, em virar os números do desemprego.

A ira contra PPC, deve-se também ao facto de a emigração estar tradicionalmente associada a vida de sacrificio, privações e tristeza.
Mas emigração não é assim, nestes dias.

Li no jornal The Guardian de 30/01/13 duas entrevistas feitas a um arquitecto Irlandês, Brendan Doris, 62 anos de idade, e a um Gestor de negócios e marketing do Porto, Diogo Gomes. Faço aqui algumas transcrições dessas entrevistas:
A Irlanda não é estranha a grandes ondas emigratórias, mas os números recentes mostram um recorde dos últimos 25 anos. 87 mil pessoas deixaram o país no primeiro trimestre de 2012. É o quarto país com maior desemprego na Europa, com 14,6%. Alguns comentadores dizem que a emigração salvou a Irlanda de um colapso social económico ainda maior, chamando-lhe Válvula-de-segurança-social, em que reduziu indirectamente o desemprego e a carga sobre os serviços sociais. Economistas acreditam que isto evitou, também, distúrbios sociais como na Grécia.

 Brendan Doris mudou-se para os Emirados Árabes Unidos em Setembro de 2012 e diz “ficarei aqui pelo menos 4 anos, se não mais. Sou arquitecto, trabalho por conta própria e não tinha trabalho suficiente na Irlanda. Todos os meus clientes continuavam a adiar os projectos- havia montes de potencial, mas eu não vivo de potencial. Tem sido emocionalmente difícil. Todos os dias, passo uma hora e meia no Skype com a família, ajudando com os trabalhos de casa e observando-os a jantar por isso, somos uma família virtual. Em alguns aspectos, vemo-nos mais regularmente do que quando vivíamos juntos”. E a entrevista prossegue...
Diogo Gomes, aderiu a um programa do Governo Português, colocando estagiários recém-formados, em companhias Portuguesas à volta do Mundo, oferecendo-lhe apoio financeiro. Três semanas antes de arrancar, foi avisado de que iria para Moçambique, durante uns meses. Isto aconteceu faz dois anos. Diogo diz “isto são maus tempos para se ser novo, português e se procurar trabalho. A taxa de desemprego juvenil é de 39,1%. Um membro do Governo não provocou escândalo ao mandar os desempregados, por Facebook, montar nas bicicletas para procurar trabalho mas sim, causou escândalo e indignação, quando os mandou emigrar”

Foi o que ele fez. “As melhores oportunidades, jazem fora do país, para quem procura experiência depois de se formar”
“A situação em Portugal é muito delicada. No passado, nós tivemos líderes muito improfissionais, que levaram o país a um enorme défice. A economia imobilizada e as medidas de austeridade cortam a criação de trabalho. Na realidade, considero-me cheio de sorte . A vida em Moçambique é muito agradável, há muito que fazer também a’ noite. Portugal é o meu pais e é fantástico para viver. Só damos o devido valor, quando estamos longe. No entanto, estou muito feliz em Moçambique, e ir duas vezes por ano a Portugal é o suficiente para ver amigos e família e para voltar as minhas raízes”.