Mário de Oliveira |
Dentro do capitalismo e do seu irmão gémeo, o cristianismo, em todas e cada uma das suas múltiplas versões históricas, nunca haverá salvação para a humanidade. O Ocidente que ambos pariram, é, hoje, o protótipo, para o resto do mundo, do grande acidente/desastre que acaba de alcançar proporções estruturais de genocídio, ecocídio e geocídio. Sem dar o mais pequeno sinal de recuo. Tão pouco faz caso dos sucessivos alertas, dados, cada dia, sob a forma de reacções/manifestações “furiosas” da natureza, que ele continua a esventrar, explorar, devassar, violentar, em toda a crueza e potência do
Princípio Masculino que é, de resto, a sua inconfundível assinatura de dono, patrão, algoz, lobo do lobo e lobo do próprio homem.
Nem K. Marx alguma vez sonhou que o capitalismo e o cristianismo – os dois cada vez mais um só, no Ocidente! – levariam tão longe e tão fundo todos os seus apetites devoradores e devastadores. É que nem sequer cuidam do chão de que precisam para pisar/negociar; do ar de que precisam para respirar e da água de que precisam para beber, se quiserem perpetuar-se sobre o planeta. Entendem que, quando este planeta já não der mais, têm já em projecto mudar-se de armas e bagagens para um outro, que o céu, já eles sabem há muito que não existe, a não ser nos contos de fadas para crianças/adultos que recusam crescer e assumir-se na história, ou nos contos/historinhas de catequeses paroquiais, episcopais e papais, nomeadamente, por alturas de cada festa do solstício de inverno e do solstício de verão.
Cabe-nos, populações deste terceiro milénio, acordarmos e mudarmos de ser e de Deus. Não podemos ficar à espera dos indispensáveis alertas, por parte dos Estados das nações, nem por parte das cúpulas das igrejas cristãs, muito menos, da maior de todas e a mãe de todas, a igreja cristã católica romana. Todos os seus chefes – religiosos e clérigos, uns; seculares e laicos, outros – são os mais alienados dos seres vivos, dotados de consciência, já que vivem fora da realidade histórica, num tipo de mundo que em nada coincide com o nosso mundo, o das populações, cada vez mais condenadas a ter de sobreviver – indignidade das indignidades – da sopa dos pobres e do lixo, da ociosidade/desemprego, da depressão generalizada e das hóstias de farinha de trigo sem fermento, que as igrejas cristãs distribuem nos seus cultos semanais ou na suas legiões de boa vontade, com as trombetas mediáticas a acompanhar, para que todo o mundo seja sabedor que ainda há gente endinheirada que ajuda gente carenciada.
Narra o Evangelho de Lucas que, quando Jesus, em Abril do ano 30, já se aproxima de Jerusalém, a cidade, de repente, aparece-lhe lá ao longe, em toda a sua imponência. Era ali o umbigo do Mundo, no pensar/dizer de um qualquer judeu de então. O sonho de qualquer judeu, naquele então, era visitar a cidade, ao menos, uma vez, na sua vida. E quem conseguia esse feito, toda a deslocação em direcção à cidade, era uma festa, em grupo, tecida de cantos, danças, salmos, sons de múltiplos instrumentos musicais da época. Jesus, pelo contrário, vê a cidade, em toda aquela sua grandeza e em todo aquele seu ouro, e chora. Chora, convulsivamente. De dor. Porque vê que, afinal, o tão falado e admirado Templo é a negação da realidade/verdade. Aquele luxo é o lixo da esmagadora maioria dos judeus, camponeses como ele. O Deus daquele templo é o mesmo do Mundo, o Senhor… Dinheiro! Só mesmo o Deus Dinheiro veste semelhante imponência. E é do Dinheiro, que vêm a perdição, o roubo, a exploração, os impostos sobre impostos, as multas sobre multas.