05/01/2013

O Prof. Jorge Miranda abriu a Constituição no Clube dos Pensadores

Joaquim Jorge convidou o Prof. Jorge Miranda, reputado constitucionalista, por muitos considerado o pai da Constituição da Republica Portuguesa, paternidade que o próprio recusa, para debater no CdP o Estado Social, quase numa premonição de que a aprovação do OE 2013 iria gerar muita polémica. 

Após a tradicional apresentação do convidado, este tomou a palavra e fez uma resenha histórica internacional da inclusão em constituições e diplomas semelhantes do que é considerado o Estado Social. Falou das garantias que os cidadãos podem ver plasmadas em normas da constituição, mas que não se pode pedir tudo à constituição.
Sobre a polémica inconstitucionalidade de normas suscitadas pelo PR, Jorge Miranda foi claro em dizer que o Presidente da Republica deveria ter suscitado a fiscalização preventiva a montante de todo o processo, mesmo com trabalhos nos bastidores para extirpar as dúvidas.

Relativamente ao OE, o constitucionalista foi claro ao afirmar que está em vigor em qualquer dos casos, mesmo que haja inconstitucionalidade em algumas das normas, que terão, depois, de ser corrigidas.
Sobe o estado social, o Prof. Jorge Miranda, um exemplo de português a ser seguido, como disse JJ, não mediu palavras para dizer que há pensões de reforma que são imorais, designadamente as vitalícias recebidas por políticos com 8 anos de exercício do cargo.

Joaquim Jorge disse que ninguém deveria receber pensões antes do completar os 65 anos, como forma de equilibrar as finanças da Segurança Social e que também não deveria ser permitido a acumulação de pensões, com igual fim. Referiu que se sente enganado por um Estado que o iludiu e que no futuro não terá a reforma que pensou um dia vir a ter e para a qual contribuiu. Referiu que o cálculo da pensão deveria ter em conta o que efetivamente cada um descontou, devendo ser criada uma comissão que fizesse uma avaliação da situação, poupando milhões aos cofres da Segurança Social.
Jorge Miranda afirmou-se genericamente de acordo com estas ideias.

À pergunta que enderecei ao Prof. Jorge Miranda, que tenho a perceção de que na nossa Constituição os cidadãos só têm direitos e não deveres, por um lado, e por outro, o que deveria ter a Constituição para ser interpretada de forma menos volátil por eminentes constitucionalistas, por vezes com interpretações opostas sobre o mesmo assunto, JM disse que o direito é uma ciência de opinião e não é ciência exata, como a engenharia e que há deveres consagrados na constituição. Mas na verdade, digo eu, são deveres básicos que ofuscam os direitos deveras muito realçados.
Falou na reorganização das Freguesias e considera que se justifica, sobretudo no meio urbano, mas não no rural, onde emergem questões históricas, culturais e de participação cívica e democrática dos cidadãos.

Portugal, ainda assim é um Estado de Direito, tranquilizando alguns participantes que o questionaram a respeito. Diz-se um otimista e o país vai sair da situação difícil, em parte causada pela entrada no Euro e, por outro, pela fraca natalidade que põe em causa a saúde do sistema de segurança social. Criticou a falta de programas ativos neste domínio e a falta de apoio às famílias numerosas.
Mário Russo
JM salientou que um dos flagelos numa sociedade é a corrupção, que não e apenas materializada em dinheiro, mas nas cunhas, no emprego para quem o não merece. Na promoção por amiguismo e reforçou que é o povo português que contribui e participa deste tipo de farra e não se pode apenas condenar e sempre, os políticos, como se eles não fossem uma emanação da sociedade.
Uma sessão se sala cheia de gente entusiasmada, muito debatida e com muitas ideias.

Começa bem o ano para o CdP e para Joaquim Jorge. Parabéns por mais um debate de grande nível.