23/12/2012

Crónica do Brasil

António Jota
     Boas festas                                                     

Dias atrás disse aqui que não sou ateu nem anarquista nem revolucionário. Mas não quero desapontar amigos que exibem tais predicados. Que não pensem, entretanto, seja eu cínico alienado, pois não é isso - o que já deve ser alguma coisa se houver boa vontade e o diálogo for a tônica.

Gosto da pátria, da família (apesar de ser a minha esfacelada), gosto de acreditar em Deus, gosto de boa literatura, leio e escrevo por vício, gosto da disciplina, da inteligência humana e abomino, mas abomino com toda força de minhas entranhas, aos pastores e padres vigaristas – um verdadeiro câncer alastrado nas vísceras da espécie humana.

Abomino a corrupção incrustada na sociedade, que finda resvalando em tudo, e eclode em tudo que é público: prefeitura, estado e Brasília, instituições em geral. Discordo quando se diz ser Brasília o cerne da picaretagem nacional, que faz do Brasil campeão mundial. Brasília não é o cerne, Brasília é só o resultado, o monumento onde todos apontam numa tentativa imbecil de dizer ‘eu são sou corrupto’. A corrupção é ubíqua e, como Deus, está sempre no meio de nós. E por que digo isso? Simples: quando o individuo não se sabe doente, para que procurar médicos? Saibamo-nos então doentes!
Abomino também a vigarice, que tão bem fabrica líderes religiosos dispostos a santificar, mostrando o caminho de Deus, usando impiedosamente a tática medieval de mandar os pobres de caráter para o inferno ou redime-os e lhes garantindo o céu. Abomino também a idiotia, que é o senso raso, cretino, que finda dominando, e é aproveitado por políticos criminosos.

Adoraria idolatrar a um indivíduo cuja vida fora manusear o Estado, sem precisar botar no bolso o alheio. Dignidade a toda prova. Parece fantasia, eu sei, mas no Brasil ainda existe gente assim e está mais perto do que se pensa.

Nossa luta brasileira é gigantesca, mas tenho fé e espero um futuro minimamente digno para as novas gerações.

Agradeço a amizade dos portugueses, retribuo desejando sucesso na luta contra o apodrecimento ético promovido por ‘insetos’ medrados em terra lusa, boas festas e feliz ano novo. Fui!