António Jota |
Dias atrás disse aqui que não sou ateu nem anarquista nem revolucionário. Mas não quero desapontar amigos que exibem tais predicados. Que não pensem, entretanto, seja eu cínico alienado, pois não é isso - o que já deve ser alguma coisa se houver boa vontade e o diálogo for a tônica.
Gosto
da pátria, da família (apesar de ser a minha esfacelada), gosto de acreditar em
Deus, gosto de boa literatura, leio e escrevo por vício, gosto da disciplina,
da inteligência humana e abomino, mas abomino com toda força de minhas
entranhas, aos pastores e padres vigaristas – um verdadeiro câncer alastrado
nas vísceras da espécie humana.
Abomino
a corrupção incrustada na sociedade, que finda resvalando em tudo, e eclode em tudo
que é público: prefeitura, estado e Brasília, instituições em geral. Discordo
quando se diz ser Brasília o cerne da picaretagem nacional, que faz do Brasil
campeão mundial. Brasília não é o cerne, Brasília é só o resultado, o monumento
onde todos apontam numa tentativa imbecil de dizer ‘eu são sou corrupto’. A
corrupção é ubíqua e, como Deus, está sempre no meio de nós. E por que digo
isso? Simples: quando o individuo não se sabe doente, para que procurar médicos?
Saibamo-nos então doentes!
Abomino
também a vigarice, que tão bem fabrica líderes religiosos dispostos a
santificar, mostrando o caminho de Deus, usando impiedosamente a tática
medieval de mandar os pobres de caráter para o inferno ou redime-os e lhes
garantindo o céu. Abomino também a idiotia, que é o senso raso, cretino, que
finda dominando, e é aproveitado por políticos criminosos.
Adoraria
idolatrar a um indivíduo cuja vida fora manusear o Estado, sem precisar botar
no bolso o alheio. Dignidade a toda prova. Parece fantasia, eu sei, mas no
Brasil ainda existe gente assim e está mais perto do que se pensa.
Nossa
luta brasileira é gigantesca, mas tenho fé e espero um futuro minimamente digno
para as novas gerações.
Agradeço
a amizade dos portugueses, retribuo desejando sucesso na luta contra o
apodrecimento ético promovido por ‘insetos’ medrados em terra lusa, boas festas
e feliz ano novo. Fui!