António Jota |
Não sou anarquista porque gosto da ideia de ter um
representante idealizado, que viva no mágico aonde eu nunca chegarei. Isto me
ajuda a sonhar e consequentemente a viver. Nem tudo precisa ser concreto, nem
tudo precisa ser alcançado; sincero creio precisar de ilusões o ser humano. Contradiz
esta filosofia o conhecimento que tenho sobre anarquismo, e não estou
interessado em aprofundamento disciplinador, pois, tudo o que disciplina tem a
mesma finalidade: dominar. E dominado por dominado, fico onde estou.
Não sou ateu, embora tenha sérias divergências com
religiosos de modo geral, sobretudo àqueles nitidamente vigaristas, àqueles aos
quais Jesus referiu dizendo ‘afastai-vos de mim, não vos conheço, hipócritas’.
Adoro a arquitetura religiosa e a maioria das esculturas católicas. Considero a
Bíblia o maior literário de todos os tempos. Li-a de capa a capa mais de uma
vez e leio-a picotadamente de quando em quando; abomino entretanto as versões
atuais em linguagem chula, ou seja, a aposta das religiões no cretinismo
popular.
Não sou revolucionário porque cansei de revolucionar
minha própria existência e os resultados não são os desejados. Não aprecio mais
o incendiário. Prefiro pensar que existe uma equipe metódica que trás água,
energia e abastecimento a minha porta e, em tendo eu um determinado dinheiro,
possa pedir via fone uma pizza ou uma foda. Não tenho, portanto, certeza do que
viria após a revolução, e em promessa não creio mais, passei da idade.
Atingi tal grau de amadurecimento que não me idiotizo imbuído
de lixo ideológico de outrem. Mas, para não radicalizar, aceito idiotizar-me desde
que eu esteja tremendo de tesão pelo idiotizante. Caso contrário, deito de lado,
como dizem os lusos.
Não estou interessado em nada além de compreender o
Meio e as minhas atitudes dentro deste Meio, que é invisível como a
eletricidade e incisivo como o fogo das revoluções.
Peço conquanto aos anarquistas, ateus e revolucionários
que não me queiram mal, pois eu quero bem a todos. Mas, vão por lá, que eu vou
por cá. Confluamos em paz nos caminhos possíveis até que um, enfastiado,
resolva ao outro sangrar.