16/12/2012

Crónica do Brasil


António Jota
De vez em vez entro em saia-justa com pessoas queridas. Certamente por não ser eu claro em zonas conflitantes. Decido então dizer isto: eu não sou anarquista, nem ateu, nem revolucionário. 

Não sou anarquista porque gosto da ideia de ter um representante idealizado, que viva no mágico aonde eu nunca chegarei. Isto me ajuda a sonhar e consequentemente a viver. Nem tudo precisa ser concreto, nem tudo precisa ser alcançado; sincero creio precisar de ilusões o ser humano. Contradiz esta filosofia o conhecimento que tenho sobre anarquismo, e não estou interessado em aprofundamento disciplinador, pois, tudo o que disciplina tem a mesma finalidade: dominar. E dominado por dominado, fico onde estou.

Não sou ateu, embora tenha sérias divergências com religiosos de modo geral, sobretudo àqueles nitidamente vigaristas, àqueles aos quais Jesus referiu dizendo ‘afastai-vos de mim, não vos conheço, hipócritas’. Adoro a arquitetura religiosa e a maioria das esculturas católicas. Considero a Bíblia o maior literário de todos os tempos. Li-a de capa a capa mais de uma vez e leio-a picotadamente de quando em quando; abomino entretanto as versões atuais em linguagem chula, ou seja, a aposta das religiões no cretinismo popular.

Não sou revolucionário porque cansei de revolucionar minha própria existência e os resultados não são os desejados. Não aprecio mais o incendiário. Prefiro pensar que existe uma equipe metódica que trás água, energia e abastecimento a minha porta e, em tendo eu um determinado dinheiro, possa pedir via fone uma pizza ou uma foda. Não tenho, portanto, certeza do que viria após a revolução, e em promessa não creio mais, passei da idade. 

Atingi tal grau de amadurecimento que não me idiotizo imbuído de lixo ideológico de outrem. Mas, para não radicalizar, aceito idiotizar-me desde que eu esteja tremendo de tesão pelo idiotizante. Caso contrário, deito de lado, como dizem os lusos.

Não estou interessado em nada além de compreender o Meio e as minhas atitudes dentro deste Meio, que é invisível como a eletricidade e incisivo como o fogo das revoluções.

Peço conquanto aos anarquistas, ateus e revolucionários que não me queiram mal, pois eu quero bem a todos. Mas, vão por lá, que eu vou por cá. Confluamos em paz nos caminhos possíveis até que um, enfastiado, resolva ao outro sangrar.