26/10/2012

A balança comercial


O governo tem indicado, como um dos resultados da sua acção, a grande redução do crónico défice da nossa balança comercial. Há muitos anos que nós importávamos muito mais do que exportávamos.
Se as notícias que me chegam são verdadeiras, esse “bom” resultado é conseguido pelas piores razões. É verdade que exportamos mais e importamos muito menos. Mas a razão porque importamos menos é porque, em consequência do brutal e injustificado corte no nível de vida da maioria dos portugueses – a excepção é a minoria de privilegiados – que os governos dos últimos sete anos nos impuseram, por uma gestão muito danosa, as pessoas têm muito menos dinheiro para adquirir bens. Eu não avalio em menos de 50%, tudo incluído, a perda do poder de compra dessa maioria. Um dos casos mais evidentes é o dos automóveis, cuja venda caiu muito. Importamos muito menos automóveis, além de muitos outros bens.

O grande aumento das exportações, de acordo com as notícias que recebo, é do ouro, que as pessoas vendem para poder comer. Não me custa a acreditar que seja verdade, em face da proliferação de lojas a comprar ouro, como vimos nos últimos tempos. Isto significa que, além da enorme delapidação do património público, que o estado tem levado a cabo e do mais que se anuncia, a saída de grandes quantidades de ouro dos particulares, faz com que Portugal, que já não era rico, vá ficando cada vez mais pobre.

Não sei o que se pode fazer nos sectores da indústria e das pescas, embora suspeite que se pode fazer muito mais. Com a Zona Económica Exclusiva que temos, apesar dessa enorme extensão de mar, compramos peixe aos espanhóis porque abatemos barcos em troca de magros subsídios e, dispondo de estaleiros, não construímos novos e melhores barcos de pesca. Na agricultura, tanto quanto sei, embora se tenha travado a criminosa destruição que vinha sendo feita e que atingiu o cúmulo de intensidade no governo de Sócrates, não se fizeram ou só muito pouco das acções que, como repetidamente tenho dito e escrito, muito poderiam incrementar a nossa produção agrícola. Tenho pena que tais acções não tivessem começado quase logo após a tomada de posse do actual governo, pois talvez já se estivessem a ver alguns resultados, de que a nossa economia e as nossasfinanças tanto necessitam.
As próximas gerações, com as dívidas que estes lhes vão deixar, ficarão com um encargo enorme. Com ordenados bem mais pequenos do que tínhamos há uma década, terão um nível de vida que os vai colocar em lugar ainda mais baixo no conjunto das nações. Pobre país!

Miguel Mota