23/09/2012

Um Mundo egoísta



Sento-me na secretária e organizo os papéis e o grande número de tarefas que me esperam para poder enfrentar mais um dia. Tento pensar em mim embora por vezes não seja fácil. A experiência adquirida ao longo dos três anos de serviço como docente é lisonjeira, para fazer face às adversidades da minha actividade profissional, no sector privado. Muitas vezes sinto-me perdido embora na prática tenha sempre de passar uma mensagem contrária. A liberalização do mercado de trabalho está progressivamente a destruir a dignidade humana, tonando esta uma sociedade, onde apenas os fortes triunfam, os mais fracos sentem cada vez mais dificuldades e são muitas vezes marginalizados.

Entristece-me perceber que não posso ter uma casa minha, pois o meu emprego deslocaliza-se geograficamente de um modo aleatório sem que eu possa controlar, ou saber o lar que estarei a habitar daqui por uns meses. Actualmente e felizmente posso dizer que tenho um quarto e um trabalho, no entanto interrogo-me sobre como será o meu dia de amanhã. Apercebo-me através de mensagens governativas que me referem ”não há empregos para a vida” e por isso não devo pensar a longo prazo. É o que eu subentendo desta expressão. Será que nesta sociedade dita democrática eu já não posso pensar no meu futuro e na minha felicidade e tenho de me subjugar a um sistema onde o trabalhador tem de se sujeitar às regras, onde funciona tudo para conseguir espezinhar quem é mais fraco. Não foi este o futuro que eu pensei para mim, sinto que com estas medidas de austeridade estão a tornar os portugueses mais tristes, pois sentem que estão a destruir algo que nos é querido, o nosso Portugal.

Na passada sexta feira, no meu local de trabalho, o colégio, apercebi-me de um olhar triste de um menino que eu estava a acompanhar numa actividade extra horário lectivo. Decidi-me sentar um bocadinho ao pé dele e perguntar-lhe o que tinha. Ele respondeu-me que os pais chegavam tarde a casa e ficavam horas em frente ao computador e não davam atenção aos filhos. Depois daquela expressão não tive capacidade para dizer mais nada, apetecia-me dar-lhe um abraço e reconforta-lo. Depois desta experiência fiquei ainda mais convicto do que sinto e me faz ter força para continuar a trabalhar num ritmo louco, para não ter um reconhecimento no final. Vejo que as nossas crianças, que não têm culpa dos erros cometidos pela nossa sociedade, onde o trabalho asfixia e retira o tempo para pessoas que gostamos e nos merecem atenção. No final de um dia exaustivo de trabalho, a melhor recompensa é sentir, que por mais pequeno que seja o nosso contributo, ajudámos a transformar uma expressão num sorriso.

Tiago Sousa
Professor de Geografia
Autor do blogue Mania de Escrever