12/09/2012

Passos falsos de Coelho

Pedro Passos Coelho condenava Sócrates, e bem, pela sua prática governativa depredadora e até escreveu um livro para expor a sua vida, ideias e convicções para levar Portugal para o bom caminho.
No entanto, as medidas que tem tomado vão quase todas ao arrepio do que pensava, escreveu e disse. À austeridade soma-se constantemente mais austeridade e sempre na direção mais fácil.

A decisão tardia do TC referente ao confisco dos subsídios aos funcionários públicos levou o Governo a decidir por aumentar a taxa social única aos trabalhadores de 11 para 18%, ou seja, mais 7%, abrangendo todos os trabalhadores, sejam públicos ou privados. Mas diminuiu essa taxa em 5,75% para as empresas, num movimento de tirar aos pobres e entregar aos ricos, o contrário do Zé do Telhado.

A sua convicção é que vai criar mais emprego. Não sei como, mas é a sua profissão de fé e de Gaspar. A medida não está a agradar a ninguém e não consigo compreender como se tomam decisões destas de um modo tão superficial, sem medir as consequências reais. Com efeito, ao diminuir as receitas dos trabalhadores (retira 7% da massa salarial da economia), vai causar mais retração no consumo e por isso mais falências a caminho. Os próprios empresários dizem que a medida não vai potenciar criação de empregos.

O que se sabe é que vai engordar a conta bancária das grandes empresas, muitas delas monopólios naturais, que não precisariam nada deste bónus.
A desculpa de ser uma imposição da troika é falsa, porque no memorando está previsto um conjunto de reformas que não foram feitas porque mexem precisamente com o grande capital. As rendas excessivas na eletricidade continuam, as PPP não se alteraram, os institutos públicos não reduziram o suficiente, a reorganização administrativa, as empresas públicas, etc.

Coelho dá assim, passos em falso neste trajeto de governação ao mostrar-se muito forte com os fracos e imensamente fraco com os fortes. PPC fica deleitado com os elogios que lhe fazem os algozes do modelo de ajustamento, mas uma uma ilusão pensar que assim mobiliza o “exército” para os combates.
Só por incompetência é que PPC e seu ministro das Finanças podem ficar surpreendidos com as quedas brutais nas receitas fiscais, no brutal desemprego, no número elevado de falências e no aumento das despesas do Estado. É a economia, estúpido, como dizia o outro.  

Mário Russo

*novo AO