No entanto, as medidas que tem tomado vão quase todas ao
arrepio do que pensava, escreveu e disse. À austeridade soma-se constantemente
mais austeridade e sempre na direção mais fácil.
A decisão tardia do TC referente ao confisco dos subsídios
aos funcionários públicos levou o Governo a decidir por aumentar a taxa social
única aos trabalhadores de 11 para 18%, ou seja, mais 7%, abrangendo todos os
trabalhadores, sejam públicos ou privados. Mas diminuiu essa taxa em 5,75% para
as empresas, num movimento de tirar aos pobres e entregar aos ricos, o
contrário do Zé do Telhado.
A sua convicção é que vai criar mais emprego. Não sei como,
mas é a sua profissão de fé e de Gaspar. A medida não está a agradar a ninguém
e não consigo compreender como se tomam decisões destas de um modo tão
superficial, sem medir as consequências reais. Com efeito, ao diminuir as
receitas dos trabalhadores (retira 7% da massa salarial da economia), vai
causar mais retração no consumo e por isso mais falências a caminho. Os
próprios empresários dizem que a medida não vai potenciar criação de empregos.
O que se sabe é que vai engordar a conta bancária das
grandes empresas, muitas delas monopólios naturais, que não precisariam nada
deste bónus.
A desculpa de ser uma imposição da troika é falsa, porque no
memorando está previsto um conjunto de reformas que não foram feitas porque
mexem precisamente com o grande capital. As rendas excessivas na eletricidade
continuam, as PPP não se alteraram, os institutos públicos não reduziram o
suficiente, a reorganização administrativa, as empresas públicas, etc.
Coelho dá assim, passos em falso neste trajeto de governação
ao mostrar-se muito forte com os fracos e imensamente fraco com os fortes. PPC
fica deleitado com os elogios que lhe fazem os algozes do modelo de ajustamento,
mas uma uma ilusão pensar que assim mobiliza o “exército” para os combates.
Só por incompetência é que PPC e seu ministro das Finanças
podem ficar surpreendidos com as quedas brutais nas receitas fiscais, no brutal
desemprego, no número elevado de falências e no aumento das despesas do Estado.
É a economia, estúpido, como dizia o outro.
Mário Russo
*novo AO