A decisão do Governo sobre o aumento da TSU para trabalhadores e diminuição
para os empregadores foi mote para Pedro Passos Coelho (PPC) ir
à RTP dar explicações, já que o seu ministro das Finanças
apenas a divulgou.
Mas a montanha pariu um rato, pois não foram bem recebidas por ninguém.
Transformou-se num rastilho que está prestes a incendiar o país.
Não é apenas um defeito de comunicação deste governo. Revela algo mais que
já não é novidade e que se traduz numa total incapacidade de mobilizar os
portugueses para tempos difíceis que vivemos.
A entrevista está cheia de contradições e equívocos. Senão vejamos:
Se o país precisa de arrecadar mais receita tendo em conta o chumbo do TC,
o sacrifício deve ser repartido pelos portugueses e não apenas pelos mesmos de
sempre. Mas pior é ter sido oferecido aos empregadores o que foi retirado aos
trabalhadores. Ora como explicar isso?
A ideia de que as empresas vão criar mais emprego ou que não haverá
destruição de mais emprego é uma ideia peregrina que invadiu as cabeças
pensantes deste governo, cujo ministro das finanças veio dar uma explicação
esdrúxula sobre a teoria dos modelos de previsão usados. Disse ele que agora
deixou o modelo matemático e utiliza um modelo empírico. Só que ele se soubesse
algo de modelos saberia que o empírico também é matemático alicerçado em
resultados experimentais.
E aí começa outra contradição porque não ouviu a voz da experiência. Os
empregadores de todos os quadrantes e pesos disseram que era uma medida
contraproducente, porque ao retirar dinheiro dos trabalhadores é o mesmo que
retirar das empresas, que terão menos receitas e daí menos possibilidades de
manter a atual carga laboral. Por outro lado, as arrecadações fiscais do
governo caem, logo aumentando o défice na arrecadação, ou seja, um desastre
atrás do outro.
Se pretende que não haja quebra do consumo para não prejudicar as empresas
nem a arrecadação de impostos, deveria manter a taxa da TSU para as empresas e
a ter de aumentar para cobrir o chumbo do TC, seria a diferença que afinal é a necessária
(7% - 5.5%). Matematicamente é o mesmo.
A princípio dei um voto
de confiança a PPC, mas volvido um ano, constato que foi um erro de casting. Não
só PPC, que afinal é demasiado frívolo, bem como os seus emblemáticos
ministros, verdadeiros embustes. Não têm experiência empresarial, nem estatura
e dimensão política. Não passam de contabilistas técnicos, eventualmente úteis
como assessores.
Portugal precisa de
equilibrar as suas contas e não pode gastar mais que o que arrecada. É verdade.
Mas essa meta deve ser alcançada como consequência das medidas de
racionalização da organização do país. A reorganização administrativa com
fusões de cidades e redefinição das Juntas de Freguesia. Com a eliminação dos
organismos inócuos e redundantes. Fim de fundações e outras sanguessugas do OE.
Reorganização e redefinição das missões do Estado. Fim da impunidade na
Justiça, verdadeiro cancro que corrói o aparelho de Estado.
Para isso é preciso tempo
e se PPC quisesse mostra que é competente, teria de demonstrar aos credores que
este era o caminho e não ser um amanuense a cumprir as ordens de um qualquer
capataz. E jamais teria a estapafúrdia ideia de tirar aos trabalhadores para
dar aos empregadores, seja em que situação for.
Mário Russo