1. Se existe alguém que escreve cirurgicamente, sobre a sociedade portuguesa, isto é, aquilo que se passa diariamente no País, é o escritor e jornalista, Manuel António Pina.
2. de estar bem informado, com a sua “pena”, na última folha do “Jornal de Notícias” ele vai escalpelizando quase diariamente os problemas que nos afligem no dia a dia.
3. Relata ele recentemente:
“Este Governo chegou ao poder clamando que os portugueses não suportam mais
sacrifícios: afinal podiam.
Passado um ano o
desemprego subiu de 10,8 para 15,2; foram drasticamente reduzidas as prestações
sociais; confiscados os subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos
e pensionistas, contrariando as promessas eleitorais; subiram para valores
incomportáveis as taxas moderadoras; reduziu-se até à irrelevância as deduções
do IRS e IRC e as isenções do IMI; aumentaram-se brutalmente os impostos nos
transportes, na electricidade e no gás; os despedimentos tornaram-se mais
baratos, multiplicou-se o trabalho precário e sem direitos, regressou-se ao
trabalho infantil; hoje, um milhão e quatrocentos mil pensionistas vivem com
menos 500/euros mês; trabalhadores com 485/euros mês (431,6 euros com descontos)
e 416 mil não recebem subsídio de desemprego”.
4. Entretanto as rendas
excessivas da EDP continuam quase na mesma; se houvesse vontade política o
Governo podia jogar com a nacionalização das rendas, para obrigar a outra parte
a negociar; na renegociação das PPP consta que o Governo entregou a referida
renegociação à mesma consultora que antes fizera quase todos os contractos com
os concessionários; a despesa sobre as fundações ainda não se sabe; das empresas
municipais a mesma coisa; etc, etc…
5. Que conclusão se pode
extrair daqui: as metas do deficit estão muito longe daquilo que foi consagrado
no memorandum da TROIKA.
6. Evidentemente, a TROICA com a sua guarda avançada, em
Portugal, tem uma outra visão do País e prevendo “uma catástrofe social”
apressou-se a facilitar na meta do deficit; quer que reduza com maior rapidez do
lado da despesa; porém, há que estar atento; na minha opinião, para já, parar
com a venda das jóias da Coroa: A TAP, Os CTT, isto é, todas as empresas
rentáveis; alterar o mais breve possível a economia para o
desenvolvimento dos bens transaccionáveis, porque só as exportações não
chegam.
7. A meu ver, para que as
reformas se façam o melhor possível e rapidamente, é necessário alargar a base
de apoio e para isso há ceder ao PS, com humildade. Tanto o PSD como o CDS têm –
se portado como sendo detentores de toda a verdade. Triste ilusão!
8. Por outro lado, a
própria TROIKA também tem interesse em ceder, pois, como credor, dado o volume
de dinheiro já emprestado, com certeza não quererá “matar”, passe a expressão, o
devedor, porque ela sabe que terá que reaver o dinheiro emprestado mais os
juros.
E ainda não esquecer o
exemplo da Grécia…
Daí também “ELA dizer”
que o programa de ajustamento vai bem…
9. Acrescente-se ainda, que
vozes sonantes neste País, vêm alertando alguns iluminados de que o paradigma do
“liberalismo” não serve o nosso País.
10. Se não se arrepiar caminho, surgirá inevitavelmente
um “Governo de Salvação Nacional”.
11.Finalmente, pergunto-me a mim mesmo, com humildade:
Será que alguns Ministros sabem como funciona este País?
António Ramos