04/05/2012

O PAÍS DEPOIS DA MORDAÇA

O mundo globalizou, segundo os entendidos. Porém esta asserção não corresponde minimamente á realidade actual. A globalização segundo uma premissa neoliberal aconteceu objectivamente na conjuntura económica, no sentido premeditado de tornar o capitalismo numa arma irreversível de sentido único, tornando ainda pelo seu carácter desmedido, descontrolado e austero, as alternativas em puras quimeras quase irrealizáveis, no que concerne ao continente europeu. 
Exemplo disso é o que está a suceder em Portugal. E desde já, acentue-se, com a conivência dos próprios eleitores, que mesmo enfrentando uma crise que lhes foi imposta, após uma campanha eleitoral, onde tudo de bom lhes era prometido, sugere em sondagens que a ser credíveis apontam para uma vitória daqueles que sem pudor faltaram á palavra dada.
No nosso País, para a maioria da sua população a aceitação quase passiva dos seus cidadãos é um factor inquestionável e quase podemos afirmar que dadas as suas características, dificilmente vai mudar. A razão desse défice é endémica. Primeiro, o obscurantismo de décadas de fascismo foi tão impiedoso que nem o próprio 25 de Abril foi capaz de libertar o povo dessa opressão e depois, os erros de partidos políticos, nomeadamente à esquerda, que nunca se entenderam na defesa dos objectivos que deviam ser comuns, também tem muitas culpas dessa lacuna. Se assistirmos a uma discussão antagónica entre pessoas banais desses partidos, facilmente constatamos que os pontos de vista são reciprocos, mas as elites criaram tal animosidade entre si, que já não se vislumbra conserto para semelhante paradoxo. Infelizmente a luta partidária não só dividiu as pessoas, como teve o condão de semear a discórdia e pior ainda, arrasou com antigas amizades, hoje sem correspondência. A mudança brusca dum regime totalitário para uma liberdade total criou rapidamente uma clubite na política que ainda hoje se mantém inalterável.
E chegados aos nossos dias o desencanto pelo próprio dia libertador para todos, inclusive para aqueles que se distanciaram do espírito de Abril, assistimos ao cinismo duma comemoração hipócrita festejada oficialmente pelos mais contestatários das conquistas e do progresso a que se chegou. Tal discrepância é corolário daquilo que foi feito por dirigentes e figuras responsáveis dum sistema democratizado, que nas funções que lhes foram atribuídas , não foram capazes de o fazer com lisura e transparência, renegando as juras de lealdade e ultrapassando em alguns casos abusos de poder, onde a decência e a ética foram postas em causa na sua seriedade e consequentemente transformados em casos de polícia.
As comemorações do 25 de Abril de 2012, são bem o espelho da divisão do País e tendo em conta certas ameaças nada auguram de bom para os portugueses.








Joaquim Ferreira Ribeiro