03/05/2012

AS COMEMORAÇÕES DE ABRIL

O caos instalado no nosso País resultante das medidas de austeridade impostas pelo memorando da "troika" e ampliadas até ao que se vai sabendo pelo apetite insaciável deste governo, criou como aliás seria de esperar, roturas, discrepâncias, afastamentos e repulsa de vários actores da cena política nacional no preconizar dessas determinações, em relação ás comemorações do 25 de Abri. As birras habituais encenadas pelos dois maiores partidos que nos tem desgovernado, aí estão, no essencial, lançando poeira para os olhos dos eleitores com mais uma guerrilha, que sabemos ser inexistente e não passar de uma jogada táctica, fictícia e de pólvora seca. Acontece, que agastados e feridos na veia democrática que os anima, uma certa percentagem de personalidades, especialmente deputados ligados ao PSD e ao CDS, vieram mostrar o seu azedume e debitar algumas grosserias, falta de respeito e desconhecimento por aqueles que lhes escancararam as portas da liberdade para poderem, hoje, destilar o seu arrazoado infantil. Infelizmente, poder-se-ia perdoar a alguns, ainda imberbes, a ignorância desse levantamento nacional, bem como das razões que levaram os militares a sublevarem-se, mas a aceitação tácita de outros, levam-nos a concluir da sua cumplicidade e beneplácito.
Convém, por isso, lembrar aos que hoje se arvoram de que o 25 de Abril não é pertença dos militares, mas sim daqueles que os elegem agora, que essa falácia cai pela base pois tal não seria possível se os tais militares não tivessem acabado com a ditadura que ditava leis. Mas convém, reforçar que o motim que se seguiu ao golpe militar, foi civil e esse sim tornou essa conquista irreversível. Efectivamente foi a onda avassaladora do povo anónimo português na qual me incluo com muito orgulho, empenhado em acabar definitivamente com um estado de servilidade e submissão que despoletou o assalto a todas as mudanças que se seguiram ao levantamento armado, arrasando com uma dinâmica que certamente nem estaria no espírito dos Capitães de Abril , os pilares que sustentavam as bases do Estado Novo. E esse povo, foram os homens e mulheres da minha geração. Aquela que sofreu na pele o estigma dum País tiranizado e nas mãos de meia dúzia de oligarcas, onde só se podia pensar em silêncio ou em surdina, , pois ter opinião isso era privilégio de algozes, delatores, políticos da situação e comendadores.
Daí que hoje, essa legião de cidadãos generosos em idade avançada, e que pugnaram pela liberdade que todos auferem e festejam, estejam desprotegidos nas regalias alcançadas, perseguidos e castigados pelo atrevimento e a ousadia de lutar pela liberdade, e afrontaram os que achavam acima da lei.
Os tempos modernos não estão fáceis. Infelizmente, alei da selva está de volta.

Joaquim Fonseca