A democracia jamais poderia
sofrer desta “doença”, pois os partidos são imprescindíveis na democracia
representativa que aprendemos a conhecer e que praticamos; não a concebo sem
partidos que representem as nossas convicções e ideias.
A doença, ou seja, o mal
sub-reptício que a desgasta é o modo como a “partidocracia” começou a atropelar
ideais, se instala no poder e os caminhos que percorre para o atingir.
Tudo faz para nos comprovar que
um partido significa o poder, reforçado pelo facto de autoconstituir-se uma
casta onde os privilégios são indefectíveis e de direito por graça divina.
Observo como se comportam,
interior e exteriormente, e não consigo vislumbrar a prova de que são a
“expressão dos cidadãos”, isto é, os nossos verdadeiros representantes na ânsia
de vermos a coisa pública administrada com ética e o entusiasmo de bem servir.
Ética?! Pretendê-la é ter quase a sensação que começamos a entrar no campo da
veleidade! Mas não sejamos tão drásticos: felizmente, ainda existe quem a
cultive e respeite.
Em conclusão, é necessária uma forte dose de boa
vontade para reconhecermos, nos partidos - melhor, na forma como actuam - um
serviço à nação. O que vemos é uma pura, descarada e árida luta
pelo comando e interesses próprios.
É triste, portanto, verificar a
actual baixa popularidade das diversas facções políticas. Na Itália, o nível
oscila de dois a oito por cento; em Portugal, desconheço a percentagem, mas
advirto um mal-estar semelhante.
Todas estas considerações e
desagrado ressurgiram, após o que tem vindo a lume sobre as propostas dos três
elementos que devem ser eleitos para o Tribunal Constitucional.
Mais que desagrado, sinto-me
verdadeiramente indignada com o comportamento do Partido Socialista, partido em
quem sempre votei, desde que regressei a Portugal: precisamente por que o voto
é que duplamente me indigno.
Não compreendo nem quero aceitar
esta atitude de quem persiste num erro, quando deveria demonstrar pundonor no
cuidado e máxima atenção em propor candidatos de perfeita admissibilidade para
uma das mais altas instituições de um Estado de direito.
Se Conde Rodrigues é inadequado, por razões exaustivamente apontadas,
e não é necessário sermos iniciados na matéria para o compreender; se é
proposto mais como homem de partido – para mim, inadmissível – do que como um
juiz dotado de um currículo digno de respeito, há poucas deduções a extrair
deste caso.
É pena que os eleitores não meditem no poder que têm,
quando depositam o voto nas urnas; não saibam renovar escolhas que melhor
exprimam o que sonham para o bem do país; não exijam mais democracia e rigor no
processo de selecção dos nossos representantes no Parlamento ou em quaisquer
outras instituições.
Alda Maia