30/04/2012

PARTIDOS, “DOENÇA DA DEMOCRACIA”

Esta pergunta foi formulada como uma provocação e, paralelamente, um pretexto para advogar razões incontestáveis sobre a existência dos partidos numa democracia e condenar a interpretação que estes fazem dos votos que lhes são outorgados.

A democracia jamais poderia sofrer desta “doença”, pois os partidos são imprescindíveis na democracia representativa que aprendemos a conhecer e que praticamos; não a concebo sem partidos que representem as nossas convicções e ideias.
A doença, ou seja, o mal sub-reptício que a desgasta é o modo como a “partidocracia” começou a atropelar ideais, se instala no poder e os caminhos que percorre para o atingir.
Tudo faz para nos comprovar que um partido significa o poder, reforçado pelo facto de autoconstituir-se uma casta onde os privilégios são indefectíveis e de direito por graça divina.

Observo como se comportam, interior e exteriormente, e não consigo vislumbrar a prova de que são a “expressão dos cidadãos”, isto é, os nossos verdadeiros representantes na ânsia de vermos a coisa pública administrada com ética e o entusiasmo de bem servir. Ética?! Pretendê-la é ter quase a sensação que começamos a entrar no campo da veleidade! Mas não sejamos tão drásticos: felizmente, ainda existe quem a cultive e respeite.

Em conclusão, é necessária uma forte dose de boa vontade para reconhecermos, nos partidos - melhor, na forma como actuam - um serviço à nação. O que vemos é uma pura, descarada e árida luta pelo comando e interesses próprios.
É triste, portanto, verificar a actual baixa popularidade das diversas facções políticas. Na Itália, o nível oscila de dois a oito por cento; em Portugal, desconheço a percentagem, mas advirto um mal-estar semelhante.

Todas estas considerações e desagrado ressurgiram, após o que tem vindo a lume sobre as propostas dos três elementos que devem ser eleitos para o Tribunal Constitucional.
Mais que desagrado, sinto-me verdadeiramente indignada com o comportamento do Partido Socialista, partido em quem sempre votei, desde que regressei a Portugal: precisamente por que o voto é que duplamente me indigno.
Não compreendo nem quero aceitar esta atitude de quem persiste num erro, quando deveria demonstrar pundonor no cuidado e máxima atenção em propor candidatos de perfeita admissibilidade para uma das mais altas instituições de um Estado de direito.

Se Conde Rodrigues é inadequado, por razões exaustivamente apontadas, e não é necessário sermos iniciados na matéria para o compreender; se é proposto mais como homem de partido – para mim, inadmissível – do que como um juiz dotado de um currículo digno de respeito, há poucas deduções a extrair deste caso.
Somos levados a concluir, por consequência, que o PS, alcandorado nos votos que lhe demos, esqueceu totalmente que nos deve provas de decência e não compadrios que só revelam arrogância e estupidez. No que concerne o Dr. Conde Rodrigues, é penosa a sua falta de dignidade, pois já deveria ter retirado, espontâneamente e logo que choveram perplexidades, a própria candidatura.

É pena que os eleitores não meditem no poder que têm, quando depositam o voto nas urnas; não saibam renovar escolhas que melhor exprimam o que sonham para o bem do país; não exijam mais democracia e rigor no processo de selecção dos nossos representantes no Parlamento ou em quaisquer outras instituições.

Alda Maia