02/03/2012

A Suécia

Há tempos vi notícias, talvez com intenção de justificar os nossos males, em que se afirmava que também a Suécia estava a sofrer as agruras resultantes da crise mundial.
Como tenho alguns contactos com esse país, procurei saber o que se passava. Das informações que obtive fiquei a saber que não há ainda qualquer dificuldade significativa nem imposição de austeridade, embora se admita que, se a crise mundial se prolongar, o país venha a ser afectado. A Suécia é um país fortemente exportador e a sua balança comercial mantém-se positiva.
Quero lembrar que a Suécia, com uma população inferior à de Portugal - são uns 9 milhões - tem mais de um milhão de funcionários públicos. É uma percentagem aproximadamente dupla da do nosso país, que é um dos que tem uma das mais baixas percentagens de funcionários e que os nossos governantes querem reduzir ainda mais, assim continuando a cortar serviços, para obrigar a dar negócio aos privados.
Na Suécia a educação é totalmente gratuita para todos os graus, incluindo o doutoramento. Os governantes sabem que isso é um excelente investimento, que acaba por render ao estado, nos impostos, muito mais do que o país ali investiu.
Tive conhecimento de que uma pessoa da classe média, reformada, teve recentemente a sua reforma aumentada em 40€, ao contrário do que tem sucedido aos pensionistas portugueses que, como os que estão no activo, têm visto os seus proventos a descer assustadoramente. Lembro, também, que a enorme maioria da população da Suécia pertence à classe média e que naquele país não há "carenciados".
Também na Suécia a investigação científica, tanto nas universidades como em variadas outras instituições, públicas e privadas, é uma poderosa alavanca do progresso e da criação de riqueza. A estúpida e criminosa "lei" portuguesa que levou a uma grande destruição da investigação científica pública que não era das universidades é um dos actos responsáveis pelo miserável estado da nossa economia que, em vez de crescer, continua a diminuir, numa recessão de que não se vê o fim. Como já tenho referido, só as destruições causadas à Estação Agronómica Nacional, à Estação Nacional de Melhoramento de Plantas e ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (entre outros), cortou, quase até à extinção a produção de inovação que tanto já tinham dado ao país. Em 1985 a Estação Agronómica Nacional viu cortarem-lhe as assinaturas de quase todas as revistas científicas. Este crime de lesa ciência e lesa economia foi seguido de toda a espécie de reduções, especialmente verbas e pessoal, de forma que o Ministério da Agricultura tem hoje apenas uns pequenos restos do vasto "know how" que possuía e do que foi uma actividade que, não sendo o que eu considero que devia ser, era enorme comparado com o que existe hoje. E o resultado está patente em qualquer supermercado.
Oxalá a crise mundial não se prolongue para que a Suécia não seja afectada, embora eu não acredite que, mesmo que o seja, atinja os níveis a que Portugal desceu. Era bom que os nossos políticos copiassem modelos como este, em vez dos casos de grandes desequilíbrios sociais, em que têm sido peritos.

Miguel Mota