Há tempos vi notícias, talvez com intenção de justificar os nossos males, em que se afirmava que também a Suécia estava a sofrer as agruras resultantes da crise mundial.
Como tenho alguns contactos com esse país, procurei saber o que se passava. Das informações que obtive fiquei a saber que não há ainda qualquer dificuldade significativa nem imposição de austeridade, embora se admita que, se a crise mundial se prolongar, o país venha a ser afectado. A Suécia é um país fortemente exportador e a sua balança comercial mantém-se positiva.
Quero lembrar que a Suécia, com uma população inferior à de Portugal - são uns 9 milhões - tem mais de um milhão de funcionários públicos. É uma percentagem aproximadamente dupla da do nosso país, que é um dos que tem uma das mais baixas percentagens de funcionários e que os nossos governantes querem reduzir ainda mais, assim continuando a cortar serviços, para obrigar a dar negócio aos privados.
Na Suécia a educação é totalmente gratuita para todos os graus, incluindo o doutoramento. Os governantes sabem que isso é um excelente investimento, que acaba por render ao estado, nos impostos, muito mais do que o país ali investiu.
Tive conhecimento de que uma pessoa da classe média, reformada, teve recentemente a sua reforma aumentada em 40€, ao contrário do que tem sucedido aos pensionistas portugueses que, como os que estão no activo, têm visto os seus proventos a descer assustadoramente. Lembro, também, que a enorme maioria da população da Suécia pertence à classe média e que naquele país não há "carenciados".
Também na Suécia a investigação científica, tanto nas universidades como em variadas outras instituições, públicas e privadas, é uma poderosa alavanca do progresso e da criação de riqueza. A estúpida e criminosa "lei" portuguesa que levou a uma grande destruição da investigação científica pública que não era das universidades é um dos actos responsáveis pelo miserável estado da nossa economia que, em vez de crescer, continua a diminuir, numa recessão de que não se vê o fim. Como já tenho referido, só as destruições causadas à Estação Agronómica Nacional, à Estação Nacional de Melhoramento de Plantas e ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (entre outros), cortou, quase até à extinção a produção de inovação que tanto já tinham dado ao país. Em 1985 a Estação Agronómica Nacional viu cortarem-lhe as assinaturas de quase todas as revistas científicas. Este crime de lesa ciência e lesa economia foi seguido de toda a espécie de reduções, especialmente verbas e pessoal, de forma que o Ministério da Agricultura tem hoje apenas uns pequenos restos do vasto "know how" que possuía e do que foi uma actividade que, não sendo o que eu considero que devia ser, era enorme comparado com o que existe hoje. E o resultado está patente em qualquer supermercado.
Oxalá a crise mundial não se prolongue para que a Suécia não seja afectada, embora eu não acredite que, mesmo que o seja, atinja os níveis a que Portugal desceu. Era bom que os nossos políticos copiassem modelos como este, em vez dos casos de grandes desequilíbrios sociais, em que têm sido peritos.
Miguel Mota
Como tenho alguns contactos com esse país, procurei saber o que se passava. Das informações que obtive fiquei a saber que não há ainda qualquer dificuldade significativa nem imposição de austeridade, embora se admita que, se a crise mundial se prolongar, o país venha a ser afectado. A Suécia é um país fortemente exportador e a sua balança comercial mantém-se positiva.
Quero lembrar que a Suécia, com uma população inferior à de Portugal - são uns 9 milhões - tem mais de um milhão de funcionários públicos. É uma percentagem aproximadamente dupla da do nosso país, que é um dos que tem uma das mais baixas percentagens de funcionários e que os nossos governantes querem reduzir ainda mais, assim continuando a cortar serviços, para obrigar a dar negócio aos privados.
Na Suécia a educação é totalmente gratuita para todos os graus, incluindo o doutoramento. Os governantes sabem que isso é um excelente investimento, que acaba por render ao estado, nos impostos, muito mais do que o país ali investiu.
Tive conhecimento de que uma pessoa da classe média, reformada, teve recentemente a sua reforma aumentada em 40€, ao contrário do que tem sucedido aos pensionistas portugueses que, como os que estão no activo, têm visto os seus proventos a descer assustadoramente. Lembro, também, que a enorme maioria da população da Suécia pertence à classe média e que naquele país não há "carenciados".
Também na Suécia a investigação científica, tanto nas universidades como em variadas outras instituições, públicas e privadas, é uma poderosa alavanca do progresso e da criação de riqueza. A estúpida e criminosa "lei" portuguesa que levou a uma grande destruição da investigação científica pública que não era das universidades é um dos actos responsáveis pelo miserável estado da nossa economia que, em vez de crescer, continua a diminuir, numa recessão de que não se vê o fim. Como já tenho referido, só as destruições causadas à Estação Agronómica Nacional, à Estação Nacional de Melhoramento de Plantas e ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (entre outros), cortou, quase até à extinção a produção de inovação que tanto já tinham dado ao país. Em 1985 a Estação Agronómica Nacional viu cortarem-lhe as assinaturas de quase todas as revistas científicas. Este crime de lesa ciência e lesa economia foi seguido de toda a espécie de reduções, especialmente verbas e pessoal, de forma que o Ministério da Agricultura tem hoje apenas uns pequenos restos do vasto "know how" que possuía e do que foi uma actividade que, não sendo o que eu considero que devia ser, era enorme comparado com o que existe hoje. E o resultado está patente em qualquer supermercado.
Oxalá a crise mundial não se prolongue para que a Suécia não seja afectada, embora eu não acredite que, mesmo que o seja, atinja os níveis a que Portugal desceu. Era bom que os nossos políticos copiassem modelos como este, em vez dos casos de grandes desequilíbrios sociais, em que têm sido peritos.
Miguel Mota