Não me importava de perder soberania para uma Europa social, solidária e integradora, mas esta proposta hegemonia europeia não é política nem social e passa agora somente por disciplina orçamental e impostos iguais. No que toca a estes últimos até me parece ser justo num mercado comum que todos estejam nas mesmas condições no respeitante a impostos. Mas com um tecido empresarial diferente de estado para estado será que impostos iguais não irão afectar economias mais frágeis? A Irlanda não aceita esta proposta de IRC iguais – tem os mais baixos da zona euro. E os salários, que pena que eu tenho que estes não sejam também iguais. No final do telejornal na RTP 1 vem a jornalista Alberta apresentar aqueles dados percentuais com um ar de que são completamente verdadeiros e objectivos. Numa das suas apresentações ficámos todos a saber que os Portugueses trabalham cada vez menos horas desde há 20 anos mas ficámos também a saber que os Alemães são os que trabalham menos horas por semana. Este é o problema da estatística e o problema do povo que adora os números que não percebe e depois os atira como uma bala.
A Igualdade de estados é consagrada na UE mas como dizia o Orwell somos todos iguais mas há uns estados mais iguais do que os outros. Ouvir o presidente francês seduzir o povo francês e usar sempre o verbo na 2ª pessoa do plural juntando sempre a chanceler alemã em cada uma das suas frases discursárias e convidá-la para madrinha do seu filho foi demais. Esta Europa parece mais uma república das bananas ou a Madeira apesar da saída do Berlusconi.
Disseram-me há pouco que todos os produtos chineses à venda nas lojas chinesas em Portugal entram pelo porto de Roterdão porque é o porto com as mais baixas taxas (des)alfandegárias da Europa e daí distribuem por toda a Europa. Não sei se os portos portugueses poderão fazer o mesmo evitando assim umas centenas de milhas marítimas aos cargueiros chineses, ganhando uns euros pelo efeito de escala, e assim compensar o efeito nefasto dos produtos chineses no nosso comércio resultado desta Europa tão permissiva à sua entrada.
Outra coisa que me aborreceu particularmente nesta semana foi perceber que desapareceu o tabaco português. Há uns anos tinha desaparecido o adjectivo suave do Português, mas agora desapareceram todas as marcas portuguesas inclusive os SGs. Senti uma perda enorme de soberania e isto foi só o resultado da privatização da Tabaqueira Portuguesa. Mas em Espanha não desaparecerão os Fortuna nem em França os Gauloises. Dei por mim a comprar agora as marcas Karelia e Virginias, ambas made in Grécia, para ajudar os nossos irmãos mais pobres da UE.
09/12/2011
A perda de soberania – CEE ou UE?
Manuela Vaz Velho