O debate com Jerónimo de Sousa começou com um episódio rocambolesco de ameaça de bomba no Hotel de Gaia, onde se realizava o evento. Depois do caricato aparato de segurança, deu-se inicio ao debate com Joaquim Jorge a fazer uma apresentação do convidado, enaltecendo a sua postura de vida.
Jerónimo trazia a lição bem estudada e minuciosamente alinhavada para esta ocasião em que o governo apresentou na AR, em linhas gerais, o seu orçamento para 2012, onde de verdade apresentou uma bomba contra os portugueses e sobretudo contra os funcionários públicos.
O diagnóstico do PCP relativo às políticas seguidas pelos sucessivos governos é conhecida de todos, agora com mais força algumas das reticências do PCP ao longo da sua história política em democracia, como a entrada na UE e no euro, salientando que se perdeu independência, que agora faria muita falta.
Criticou a destruição do setor produtivo nacional e a política de transferência de riqueza deste setor para concentrar na alta finança nacional, bem como a proteção que os governos teimam em manter e até ampliar nos setores especulativos da banca, com privilégios fiscais que nenhuma outra área da nossa economia tem.
Deu exemplos dos MM de euros despejados para defender a banca, como é o caso do BPN, onde o Estado já concedeu 2,8 MM € e mais de 400 M no BPP (digo eu, que daria para cobrir o último buraco nas contas públicas que os “mineiros” do governo descobriram).
É a política de nacionalização dos prejuízos e privatização dos lucros, de que se salientam as célebres PPP.
Para Jerónimo de Sousa este governo não passa de executante cumpridor das ordens duma troika estrangeira, aplicando a mesma receita que está a levar a Grécia ao precipício, e será exatamente o que acontecerá a Portugal. Criticou quem diz que os portugueses vivem acima das suas posses, quando o que se deve dizer é que o grande capital ganhou acima daquilo que os portugueses poderiam pagar.
As medidas adotadas não apresentam nenhuma sensibilidade social e atingem os mesmos de sempre. De igualdade mão existe nada, pois é uma farsa.
Jerónimo respondeu a várias perguntas e garantiu que o PCP só fala a uma voz e aceitará ir para um governo mediante um mandato do povo, em democracia. Não vai se coligar apenas para ter uns lugares, nem pactua com políticas de destruição da economia e dos portugueses.
Não concorda com o aumento do nº de horas de trabalho como receita para a competitividade, porque a ciência e a tecnologia têm contribuído para avanços civilizacionais que agora encontram recuo garantido. Não vai resolver nada e pior, vai agravar o desemprego.
JJ reforçou a ideia inicial de que o Estado/governo não é pessoa de bem ao trair a expectativa das pessoas, que é uma traição à constituição.
Um debate que encerrou com uma breve despedida emocionada de Jerónimo de Sousa que evidenciou a cidadania ali demonstrada e o papel do CdP. Debate que mostrou um líder simples, emotivo e de grande estatura moral, que se diz um trabalhador da industria metalomecânica e que aufere um vencimento como se fosse de facto um metalúrgico (menos de 1000 € por mês). Pessoalmente penso que é um erro, pois o seu partido ao subtrair-lhe o salário de deputado comete uma injustiça, porque os restantes deputados comunistas recebem consoante as suas profissões. Acontece que todos fazem o mesmo trabalho político e para trabalho igual, salário igual, deveria ser o primado.
Parabéns ao JJ que teve a premonição de que seria tempo de discussão do orçamento e bateu certo. Um debate participativo, muito rico e aliciante que empolgou não só a assistência da sala, como a sala adjacente que acompanhou o debate através de um monitor.
Mário Russo