Portugal tem alguns casos pontuais de elevado nível em matéria de extensão rural. Podemos considerar, em tempos muito antigos, que a acção dos monges de Cister, no Mosteiro de Alcobaça foi um trabalho de extensão rural. A sua acção de desenvolvimento da agricultura da região foi magistralmente descrita por esse grande agrónomo e silvicultor que foi Joaquim Vieira Natividade, que lhes chamou "os monges agrónomos do mosteiro de Alcobaça" e bem demonstrou a importância da sua missão, terminando uma conferência sobre esse tema com uma famosa frase: "E eu, que tão bem conheço as agruras da profissão, ainda hoje não sei se eles eram santos por serem agrónomos, ou se eram agrónomos por serem santos...".
Já no século XX tivemos a acção dum outro agrónomo ilustre, João da Mota Prego, que entre a literatura que nos deixou se encontra a "Biblioteca dos meus Filhos" uma série de 7 livrinhos (um outro nunca chegou a ser editado), com magníficos ensinamentos, em forma romanceada, em estilo que tem sido correctamente comparado ao de Júlio Dinis, e em que os protagonistas são sempre jovens que na agricultura atingem bons níveis de êxito. Dele disse um dia o Professor de Agronomia Sertório de Monte Pereira: "Mota Prego é uma medida de fomento. Mandá-lo para um sítio é desenvolver a faculdade económica da região". Não conheço melhor forma de definir o agrónomo da extensão.
Alguns outros casos pontuais, como o do Eng.º José Mira Galvão, que durante muitos anos dirigiu a Brigada Técnica de Beja, que nos deixou uma série de folhetos de divulgação e cujo prestígio na região era muito grande. Alguns outros casos existiram ou existem, mas o Ministério nunca teve esse serviço organizado e com a amplitude que considero necessária. Depois do 25 de Abril até foi criada uma Direcção-Geral de Extensão, mas... não era para fazer extensão, pois isso era tarefa de outros serviços!
Não conheço qualquer descrição do valor monetário consequente desses trabalhos. O único caso de extensão rural, bem documentado e quantificado de que disponho ocorreu entre 1958 e 1971. À semelhança do que já tinha feito em França e em Itália, a companhia Shell contratou um engenheiro agrónomo e colocou-o num concelho, para o caso Sever do Vouga, não para vender os produtos da Shell, mas para fazer extensão rural, embora nunca usasse esse termo, provavelmente para não criar problemas com os serviços oficiais. O técnico escolhido foi o Eng.º Reinaldo Jorge Vital Rodrigues, meu colega de curso, um agrónomo de elevada competência e rigor, que aliava a uma boa clínica geral, uma especialização em economia agrária, pois tinha trabalhado algum tempo no grupo do Prof. Henrique de Barros.
Começou a sua actividade realizando uma detalhada monografia do concelho de Sever do Vouga, uma zona de extremo minifúndio, com explorações de muito pequena dimensão e muitas delas compostas por várias parcelas de pequena área, raramente adjacentes. Isso tornava o trabalho muito difícil porque, além do baixo nível de escolaridade da maioria dos agricultores, quando o Eng.º Vital Rodrigues convencia um a agricultor a alterar a técnica usada, passando a usar uma mais rendosa, isso era aplicável a uma área pequena, frequentemente uma fracção de hectare. A sua acção junto dos agricultores foi tendo cada vez mais aceitação e, naturalmente, cada vez mais agricultores seguiam as suas indicações e ia crescendo, a cada ano que passava, o valor acrescentado no total da agricultura do concelho.
Anualmente, era publicado um Relatório desse trabalho em que eram relatadas as melhorias obtidas, a área a que tinha sido aplicada e o valor em escudos das melhorias conseguidas nesse ano. A análise desses resultados terá de ficar para um próximo artigo.
Miguel Mota
Já no século XX tivemos a acção dum outro agrónomo ilustre, João da Mota Prego, que entre a literatura que nos deixou se encontra a "Biblioteca dos meus Filhos" uma série de 7 livrinhos (um outro nunca chegou a ser editado), com magníficos ensinamentos, em forma romanceada, em estilo que tem sido correctamente comparado ao de Júlio Dinis, e em que os protagonistas são sempre jovens que na agricultura atingem bons níveis de êxito. Dele disse um dia o Professor de Agronomia Sertório de Monte Pereira: "Mota Prego é uma medida de fomento. Mandá-lo para um sítio é desenvolver a faculdade económica da região". Não conheço melhor forma de definir o agrónomo da extensão.
Alguns outros casos pontuais, como o do Eng.º José Mira Galvão, que durante muitos anos dirigiu a Brigada Técnica de Beja, que nos deixou uma série de folhetos de divulgação e cujo prestígio na região era muito grande. Alguns outros casos existiram ou existem, mas o Ministério nunca teve esse serviço organizado e com a amplitude que considero necessária. Depois do 25 de Abril até foi criada uma Direcção-Geral de Extensão, mas... não era para fazer extensão, pois isso era tarefa de outros serviços!
Não conheço qualquer descrição do valor monetário consequente desses trabalhos. O único caso de extensão rural, bem documentado e quantificado de que disponho ocorreu entre 1958 e 1971. À semelhança do que já tinha feito em França e em Itália, a companhia Shell contratou um engenheiro agrónomo e colocou-o num concelho, para o caso Sever do Vouga, não para vender os produtos da Shell, mas para fazer extensão rural, embora nunca usasse esse termo, provavelmente para não criar problemas com os serviços oficiais. O técnico escolhido foi o Eng.º Reinaldo Jorge Vital Rodrigues, meu colega de curso, um agrónomo de elevada competência e rigor, que aliava a uma boa clínica geral, uma especialização em economia agrária, pois tinha trabalhado algum tempo no grupo do Prof. Henrique de Barros.
Começou a sua actividade realizando uma detalhada monografia do concelho de Sever do Vouga, uma zona de extremo minifúndio, com explorações de muito pequena dimensão e muitas delas compostas por várias parcelas de pequena área, raramente adjacentes. Isso tornava o trabalho muito difícil porque, além do baixo nível de escolaridade da maioria dos agricultores, quando o Eng.º Vital Rodrigues convencia um a agricultor a alterar a técnica usada, passando a usar uma mais rendosa, isso era aplicável a uma área pequena, frequentemente uma fracção de hectare. A sua acção junto dos agricultores foi tendo cada vez mais aceitação e, naturalmente, cada vez mais agricultores seguiam as suas indicações e ia crescendo, a cada ano que passava, o valor acrescentado no total da agricultura do concelho.
Anualmente, era publicado um Relatório desse trabalho em que eram relatadas as melhorias obtidas, a área a que tinha sido aplicada e o valor em escudos das melhorias conseguidas nesse ano. A análise desses resultados terá de ficar para um próximo artigo.
Miguel Mota