31/08/2011

Governo ou Gabinete de Cobrança de Impostos?


Pedro Passos Coelho não podia receber um governo mais esfrangalhado do que o que recebeu. No entanto, não pode queixar-se de que não sabia. O descalabro nas contas vem de longe e foi acelerado no consulado de Sócrates, que turbinou a dívida em mais de 100%, revelando o mesmo que os anteriores governantes, que não sabia fazer contas.

De facto, gastaram à tripaforra como se não tivessem de pagar a conta. Ela aí está e é sobre os ombros do atual governo que recai toda a responsabilidade de tirar o país do atoleiro.

Certamente que PPC não precisa de conselhos, porque está cheio de assessores. Limitar-me-ei a fazer uma breve reflexão do homem da rua que não se envergonha do que tem escrito nos últimos 5 anos aqui no CdP, pelo contrário, lamenta ter razão antes do tempo.

Penso que PPC escolheu bons ministros e que temos de ter paciência e esperança no achamento de soluções em que a cura não mate o paciente, como parece.

PPC recebeu, conjuntamente com o presente envenenado do anterior governo, um memorando da Tróika com um diagnóstico da situação, que apontava as disfunções do Estado, os regabofes das governações e apontava o que era preciso fazer. Nada que PPC não soubesse, pois disso foi dizendo antes e durante a campanha.

O que se sabe do tal memorando é suficiente para se concluir que o diagnóstico é correto, mas que as soluções não são únicas e aqui é que, dando de barato, um governo legítimo não se pode limitar a aplicar, “ipsis verbis”, o que uns senhores lhes puseram à frente.

A troika, dizem uns, impõem medidas porque são os senhores do dinheiro. Que seja. A troika pode fazer o diagnóstico e dizer que: o défice público é excessivo; que o crescimento económico é pífio; que o nº de funcionários para a missão do Estado é excessivo; que os gastos per capita em saúde são elevados; que as empresas públicas são ineficientes; que os gestores públicos ganham escandalosamente muito sem o justificar; que os custos reais de serviços públicos não são refletidos nos preços e tarifas, que as SCUT foram uma invenção de débeis mentais, etc. etc.

Podem dizer, esses senhores, que Portugal precisa de mudar de vida; diminuir o défice para x%; que o desemprego tem de diminuir y%; etc. Até podem sugerir algumas soluções, mas jamais impor soluções concretas.

Não faz sentido alienar por alienar, mais quando a bolsa de valores está na sua maior depressão após a 1ª GG.

Não faz sentido baixar a TSU para aumentar o IVA, porque não se aumenta o emprego nem a competitividade das empresas, pelo contrário, porque os bens ficam mais caros e aumenta-se o défice.
Não é possível endireitar num ano ou dois o que foi entortado em 30 anos. É preciso traçar metas, objetivos, destinar meios, ser rigoroso, disciplinado e trabalhar numa dada direção. Mas é preciso e aconselhável dar tempo ao tempo. De contrário a cura da doença vai mater o doente.

Aqui é que eu, “inocentemente”, acreditava que teríamos um governo com dimensão e estatura para dizer que cumpria com as metas, mas que se reservava ao direito de traçar as medidas a adotar, porque não é um Gabinete de 5ª categoria, cobrador de impostos.

Mário Russo


*novo acordo ortográfico