Na primeira aula da cadeira de Biologia II (Biologia dos organismos) que regi durante anos nos cursos de engenharia agronómica, na Universidade de Évora, um dos pontos que focava, com particular interesse, era o da conservação do ambiente. A quem faz agricultura, muito interessa um ambiente são, a conservação (e até melhoria) do solo, e ar não poluído. O agricultor deve ter sempre estes princípios em mente pois deles depende o futuro - e, às vezes, até o presente! - da sua actividade.
Por esses factos e a propósito do que se escreve no "Público" de 23-7-2011, tem toda a lógica que a agricultura se preocupe em preservar o ambiente no que a ela diz respeito. Isto porque "ambiente" é algo muito variado e inerente a variados sectores, da indústria ao urbanismo.
Por isso, as competências em relação ao ambiente devem estar nos respectivos ministérios. Em vez de um ministério (ou secretaria de estado) "horizontal" (com competências tiradas a outros ministérios), considero mais conveniente, para objectivos
de coordenação, quando for caso disso, um Conselho Nacional do Ambiente, não executivo, dependente do Primeiro Ministro e constituído por um ou dois delegados, de
alto nível, de cada ministério em que o ambiente seja importante.
Se, algumas vezes, os chamados ambientalistas têm sido úteis para chamar a atenção para certos problemas, não têm sido raros os casos de extremistas sem lógica. Um exemplo que recordo, na fobia contra o eucalipto - uma árvore com alguns defeitos,
mas também qualidades - foi o escrito dum jornalista a declarar que, porque num local
tinham sido plantados eucaliptos, secou uma fonte a 30 km de distância.
O caso das suiniculturas, referido no "Público" é certamente importante e há muito devia ter sido corrigido. Sem ser especialista do assunto, já tenho chamado a atenção para o que julgo poder ser um bom tratamento do problema, transformando o que hoje é um mal no que pode ser uma fonte de riqueza. Não tenho conhecimento de que algo se tenha realizado, mesmo apenas em tentativa piloto. Os dejectos das suiniculturas, hoje um grave problema de poluição, podem ser fonte de energia através da produção de biogás, o composto químico chamado metano, de fórmula CH4, simplesmente um átomo de carbono ligado a quatro átomos de hidrogénio. É um gás combustível que pode ser usado para aquecimento, para produzir electricidade ou para mover veículos automóveis. Já há tempos relatei o caso da cidade sueca de Helsingborg, em que os autocarros de serviço público são movidos a biogás gerado numa central de resíduos urbanos e cujo líquido resultante, um bom fertilizante, é conduzido para os campos por um pipeline.
O biogás pode ser produzido por via seca ou por via húmida. Tenho notícia de uma empresa municipal que envolve vários concelhos e vai iniciar a produção de biogás e fertilizante sólido a partir de resíduos urbanos. Para as suiniculturas estará provavelmente mais indicada a via húmida. Se ao valor dos produtos, biogás e fertilizante para a agricultura, adicionarmos o do desaparecimento da actual poluição, acredito que o resultado seja positivo. Uma instalação piloto, de dimensão adequada, poderá esclarecer o problema e dar preciosas indicações para outros casos.
Como já tenho referido, Portugal é um país pobre a dormir em cima de sacos de ouro, que não é capaz de aproveitar.
Miguel Mota
*artigo publicado no jornal Público
*Investigador Coordenador e Professor Catedrático, jubilado
Por esses factos e a propósito do que se escreve no "Público" de 23-7-2011, tem toda a lógica que a agricultura se preocupe em preservar o ambiente no que a ela diz respeito. Isto porque "ambiente" é algo muito variado e inerente a variados sectores, da indústria ao urbanismo.
Por isso, as competências em relação ao ambiente devem estar nos respectivos ministérios. Em vez de um ministério (ou secretaria de estado) "horizontal" (com competências tiradas a outros ministérios), considero mais conveniente, para objectivos
de coordenação, quando for caso disso, um Conselho Nacional do Ambiente, não executivo, dependente do Primeiro Ministro e constituído por um ou dois delegados, de
alto nível, de cada ministério em que o ambiente seja importante.
Se, algumas vezes, os chamados ambientalistas têm sido úteis para chamar a atenção para certos problemas, não têm sido raros os casos de extremistas sem lógica. Um exemplo que recordo, na fobia contra o eucalipto - uma árvore com alguns defeitos,
mas também qualidades - foi o escrito dum jornalista a declarar que, porque num local
tinham sido plantados eucaliptos, secou uma fonte a 30 km de distância.
O caso das suiniculturas, referido no "Público" é certamente importante e há muito devia ter sido corrigido. Sem ser especialista do assunto, já tenho chamado a atenção para o que julgo poder ser um bom tratamento do problema, transformando o que hoje é um mal no que pode ser uma fonte de riqueza. Não tenho conhecimento de que algo se tenha realizado, mesmo apenas em tentativa piloto. Os dejectos das suiniculturas, hoje um grave problema de poluição, podem ser fonte de energia através da produção de biogás, o composto químico chamado metano, de fórmula CH4, simplesmente um átomo de carbono ligado a quatro átomos de hidrogénio. É um gás combustível que pode ser usado para aquecimento, para produzir electricidade ou para mover veículos automóveis. Já há tempos relatei o caso da cidade sueca de Helsingborg, em que os autocarros de serviço público são movidos a biogás gerado numa central de resíduos urbanos e cujo líquido resultante, um bom fertilizante, é conduzido para os campos por um pipeline.
O biogás pode ser produzido por via seca ou por via húmida. Tenho notícia de uma empresa municipal que envolve vários concelhos e vai iniciar a produção de biogás e fertilizante sólido a partir de resíduos urbanos. Para as suiniculturas estará provavelmente mais indicada a via húmida. Se ao valor dos produtos, biogás e fertilizante para a agricultura, adicionarmos o do desaparecimento da actual poluição, acredito que o resultado seja positivo. Uma instalação piloto, de dimensão adequada, poderá esclarecer o problema e dar preciosas indicações para outros casos.
Como já tenho referido, Portugal é um país pobre a dormir em cima de sacos de ouro, que não é capaz de aproveitar.
Miguel Mota
*artigo publicado no jornal Público
*Investigador Coordenador e Professor Catedrático, jubilado