30/07/2011

A nova equipa na Agricultura - 4


Continuando a referir alguns casos que demonstram o que a investigaçãoagronómica pode fazer para transformar a agricultura e a nossa economia, lembro queum dos casos em que é mais fácil contabilizar os resultados económicos é omelhoramento de plantas. É fácil de contabilizar porque o problema se limita,geralmente, a substituir uma variedade por outra da mesma espécie e, portanto, basta comparar os lucros obtidos com a variedade nova, em comparação com os da que ela foi substituir, por ser mais produtiva ou ter características que a tornem mais valiosa.
A Estação de Melhoramento de Plantas, em Elvas, criada, como referi, em 1942, centrou os seus trabalhos principalmente em cereais e forragens. Lançou na lavoura o seu primeiro trigo, o 'Pirana', na década de 1950. A sua produtividade, superior à das variedades que substituiu, fizeram com que rapidamente se expandisse, principalmente no Alentejo. Não disponho de números da área cultivada com essa variedade nem de quanto, em média, valia mais a sua produção, mas é certamente um número muito alto.Porque provavelmente muitos não sabem a razão do nome desse trigo, penso que talvez valha a pena contar a sua história. Quando foi criada, a Estação de Melhoramento de Plantas recebeu sementes de cruzamentos de trigos feitos ainda em Belém pelo Prof.João de Vasconcelos, alguns, creio que em 2ª geração, em Genética designada por F2.
Em Elvas, além de novos cruzamentos, foram também estudadas as gerações seguintes desses trigos que logo que eram seleccionadas algumas que mostravam suficiente uniformidade e, aparentemente, mais valiosa produção, entravam em ensaios, no Departamento que se designava de Adaptação e Multiplicações. O Eng.º Agrónomo António José Sardinha de Oliveira, um técnico de alto nível, professor na Escola de Regentes Agrícolas de Évora, era possuidor de duas herdades em Monforte, onde fazia ensaios vários. Procurando ensaiar novos trigos, pedia à Estação de Melhoramento de Plantas sementes das linhas consideradas prontas para ensaios de produção. Considerando que na sua zona tinham provado bem o Mocho de Espiga Branca (uma variedade portuguesa antiga) e o Mentana (um trigo de origem italiana) pensou que um
híbrido entre essas duas variedades poderia ter vantagens e levou para ensaios algumas linhas resultantes desse cruzamento. Nos ensaios a que procedeu, uma linha se mostrou mais produtiva, pelo que a multiplicou e cedeu semente a agricultores da região, que logo ampliaram a sua área de cultura. Passou a ser conhecido, entre eles, pelo "trigo do Pirana", alcunha do Sr. José Pires Reigota, o feitor de confiança do Eng.º Sardinha de Oliveira, que com tanto carinho lhe tomava conta dos ensaios. Quando a Estação oficializou o trigo e havia que lhe dar um nome, foi Pirana o que se considerou adequado. Outros trigos se lhe seguiram (Lusitano, Restauração e depois, muitos outros ).
Das variedades de forragens, recordo o Grão da Gramicha, um Lathyrus que também teve grande expansão. Não sei se ainda é cultivado.
Em 1967, na celebração dos 25 anos da Estação de Melhoramento de Plantas, o então Secretário de Estado da Agricultura, falando do que a lavoura tinha recebido a mais com a cultura das variedades criadas na Estação, apresentou um valor estimado de
cerca de um milhão de contos. Citando de memória, tenho ideia de ele ter referido que o total de gastos durante esse período teria sido de 25.000 contos, mas não tenho a certeza. De qualquer forma, a desproporção entre os dois valores é enorme e representa um investimento a render juros que os nossos economistas não sabem que existem, mas são reais. Dum caso mais recente, lembro a magnífica uva D. Maria, sobre a qual já tenho escrito, resultado do trabalho, do meu colega José Leão Ferreira de Almeida, na EstaçãoAgronómica Nacional, em Oeiras.
(Continua)

Miguel Mota