23/07/2011

A nova equipa na Agricultura - 3

Do Programa do XIX Governo Constitucional transcrevo:
"Objectivos estratégicos
Agricultura
- Aumentar a produção nacional com vista a contribuir para a auto-suficiência
alimentar medida em termos globais, ou seja, em valor;
- Aumentar o rendimento dos agricultores, condição essencial para a atracção
de jovens para a agricultura e factor crucial para obter transformações rápidas e
duráveis neste sector;"
Totalmente de acordo com tais objectivos. Se os governos das últimas décadas tivessem tido esses objectivos e os cumprissem, a situação económica e financeira de Portugal seria hoje completamente diferente. Como sabemos - e há anos que, repetidamente, o venho denunciando - têm actuado no sentido oposto. E só não acabou ainda a agricultura em Portugal - como alguns têm apregoado e vários o desejam - graças a um número apreciável de agricultores que, não graças ao Ministério da Agricultura, mas apesar dele, têm continuado a lutar e, nalguns casos - não muitos, infelizmente - até com bom êxito. O país talvez não se aperceba, graças à intensa propaganda contrária, do que a agricultura contribui para as exportações portuguesas e é muito significativo.
Ao longo dos tempos e baseado em vários bons exemplos, nacionais e estrangeiros, tenho mostrado quais são as duas alavancas necessárias para transformar uma agricultura pobre, atrasada e pouco competitiva numa de grande nível e dando à economia do país uma contribuição bem maior do que dá hoje. A primeira dessas alavancas é uma investigação agronómica de alto nível e grande amplitude, que constantemente descubra a forma de fazer melhor agricultura, no seu sentido mais lato. É ela a fonte da agora tão apregoada "inovação", uma palavra que os nossos políticos começaram a usar quando "lá fora" se começou a falar, em inglês, de "innovation".
Se na indústria ou na saúde é importante o país ter investigação científica, na agricultura ela é absolutamente necessária. É possível construir em Portugal automóveis, televisões ou telemóveis com tecnologia estrangeira. Mas, pelas diferenças específicas da combinação solo e clima, a agricultura exige experiência local e a importação directa da técnica estrangeira pode dar casos de verdadeiro desastre, como logo após o 25 de Abril aconteceu. O facto de qualquer melhoria, mesmo pequena, ser aplicada a uma vasta área, causa na produção aumentos de tal montante que até o orçamento do estado colhe, sobre esse aumento, bem mais do que ali investiu. Enquanto a melhoria for aplicável, o aumento de rendimento líquido, para o agricultor e os impostos sobre esse aumento, para o estado, continuam a verificar-se, muito depois do gasto inicial. É esse o caso do único exemplo de que tenho conhecimento haver dados quantitativos dos resultados da investigação agronómica. Uma doença das vinhas do Douro chamada "maromba", que causava nas videiras muito pouco desenvolvimento e produções baixas, foi estudada na Estação Agronómica Nacional, então ainda em Sacavém. Eliminadas as possibilidades de um agente patogénico (fungo, bactéria ou vírus), foram investigadas as deficiências minerais e descobriu-se que era causada por uma deficiência de boro, um dos elementos químicos de que as plantas necessitam em quantidades muito pequenas mas que, quando faltam, causam perdas elevadas. Definida a terapêutica a aplicar, as videiras passaram a ter o seu desenvolvimento normal e aumentou a sua produção de uva. Como a Casa do Douro tem as vinhas e as suas produções todas catalogadas, contou-me o Director de então, o Eng.º Agrónomo Orlando Gonçalves, que a melhoria representava, para a viticultura do vinho do Porto, mais 28.000 a 30.000 contos por ano. O orçamento da Estação Agronómica era, nessa altura, da ordem dos 15.000 contos. E, note-se, essa melhoria continua e façam as contas para saber quanto colhe hoje o Douro como consequência desse investigação.

Miguel Mota