12/07/2011

Como se está a resolver a crise…


Um dia foi anunciado que num país distante, alem atlântico, uma empresa especialista em captura de espécies raras, tinha capturado uma criatura da espécie que estava a atacar o mundo – o tão conhecido “monstro-da-crise”. Mantido em prisão, sob fortes medidas de segurança, esta empresa, convidou os vários governos do mundo para poderem analisar o exemplar e assim dotar os seus países das medidas adequadas a efectuar a captura dos exemplares da mesma espécie que destruíam os seus países.
Logicamente, esta empresa, dita, privada e especialista em capturar espécies raras, teria que cobrar pelo serviço aos peritos dos países para que pudessem analisar o animal, pois esta é a forma desde sempre aceite para que a iniciativa privada substitua os estados no risco que empreendimentos destes poderem acarretar do ponto de vista financeiro.
Colocado o preço para se ter acesso e analisar o animal, foi decidido pela maioria dos países que estavam envolvidos e afectados pelo “monstro-da-crise” que cada um enviaria um especialista e foi solicitado à empresa detentora da captura do espécime que permitisse o acesso parcial do animal por cada representante como contra-partida em diminuir o preço a cobrar a cada um.
Com base neste principio, cada governo, sabia que assim poderia, pagando o mesmo, ter um representante de sua inteira confiança, tendo assim o controle sob situação.
Vendo tal cenário, o detentor da criatura capturada, propôs as regras e preços para que todos se sentissem satisfeitos e seguros. Haveria acessos a cinco partes do animal, desta forma o custo por cada acesso seria a dividir por todos. Todos concordaram com a proposta e enviaram de imediato os seus melhores especialistas.
Após a análise parcial do animal, os países participantes, juntaram os seus especialistas, por forma a debaterem a melhor forma de capturar tal espécie. O grupo que tinha tido acesso à primeira parte do animal afirmava que a melhor forma seria com um laço, pois este assemelhava-se a uma cobra fina de um metro. O segundo afirmava que seria com um laço, mas teria que ser bem forte, pois esta era bem grossa e forte. O terceiro afirmava que era absurdo, pois o animal era como uma borboleta gingante e era preciso uma rede caça-borboletas gigante. O quarto dizia que estavam todos loucos que o animal era como um boi e que seria necessário apenas algumas vacas para o capturar. O quinta afirmava que todos estavam errados e que assim não iriam a lado nenhum, pois o animal analisado era como um tronco de uma árvore só que móvel.
Após muita discordância sem que se chegassem a qualquer conclusão, todos passaram à acção, em cada país, cada um agiu em função do seu perito e da sua opinião. Pois desconfiavam que os restantes, teriam deturpado a análise e conclusão para que de forma premeditada só eles atingissem os objectivos de capturar os animais.
Conclusão:
1º - Mesmo sem termos toda a informação, julgamos sempre ser a nossa a conclusão acertada. (Orgulho)
2º - Sabendo que precisamos dos restantes para resolver algo, mas comportamo-nos, em relação a eles e eles a nós, de forma contrária. (Inveja)
3º - Sabemos como dividir custos (Avareza), mas não queremos partilhar o conhecimento que nos levaria, multiplicando-o, obter o resultado desejado. (Ganância)
4º - Somos incapazes de parar por um minuto e questionar se a perspectiva dos outros faz algum sentido, pelo contrário, instantânea-mente vemos logo alguém que nos está a tentar enganar, pois a sua, é contrária à nossa razão. (Ira)

Nota explicativa do autor:
O animal em questão era um elefante. O primeiro grupo teve acesso unicamente o rabo do animal, o segundo à tromba, o terceiro à orelha, o quarto aos chifres e o quinto a uma perna.
Este é um conto que de forma figurativa tenta, seriamente, transmitir uma mensagem para a reflexão conjunta. Aquilo que nos “cega” enquanto seres humanos, deveria ser colocado de lado, quando estamos a tratar de assuntos de vital importância. Serão capazes estes dirigentes de o fazer? Estarão eles mais interessados no combate individual, em saber qual deles no fim ficará por cima, ou terão a humildade e grandiosidade suficientes para ser superiores aos males de que enferma o ser humano e colocar-se acima deles em prol do bem comum?

Antero Carvalho