12/04/2011

Debate em palavras

“A democracia está doente” Outra noite grande do Clube dos Pensadores. Outra vitória para Joaquim Jorge. Desta vez um convidado de perto. Do outro lá de Gaia. Do Porto, nado e criado. Boavisteiro; gosta de corridas e de carros; de desafios difíceis; de sorriso mais frequente do que se pensa, mas duro; solidário mas não submisso; ganhou eleições sem contar; disse que as iria perder a seguir, mas teve maioria absoluta; uma e outra vez.

Agora, por força de uma lei que o “Zé” é obrigado a aceitar, mas que não entende totalmente, vai-se embora. Os bons são iguais aos maus ou aos menos bons; têm o mesmo tempo de vida legal; Só deixaram de lado uns tantos intocáveis por conveniência deles. Se são eles que fazem as leis e as aprovam, qual o mal? Rui

Rio veio a Gaia como tantas vezes deverá fazer; não sei se tantas ou mais vezes do que vai mais para norte. Veio a Gaia a convite do Clube dos Pensadores, ao palco do debate político criado por Joaquim Jorge. Falou de muitas coisas e bem, mas não falou do fim de semana de Matosinhos, apesar de JJ o “picar”! Não foi isso que estabelecemos há dois ou três meses! Falou da democracia e do país. Uma e outro bem doentes. E do poder político. Fraco. Incapaz de se impor e de resistir. E da justiça que não existe ou se existe é em benefício do que peca. Do que erra; do que corrompe e se corrompe. E da imprensa. Do seu papel e da sua função. Que desconhece o cidadão até ele entrar na política. A partir daí, agride-o, ataca-o, vilipendia-o. Todos os cidadãos são exemplares até serem políticos, disse.

E das soluções próximas e a prazo. Urge que os três partidos nascidos nesta democracia se entendam; se ou outros dois quiserem, que venham. É preciso porem-se em prática medidas drásticas e reformas sérias. O que se tem feito é que umas e outras ficam sempre a meio do caminho. Não acusemos o FMI do que não é culpado. Não foi ele que nos levou a este défice. A nossa dívida interna, a que devemos uns aos outros é enorme, mas mais grave, não mensurável ,é a que devemos aos outros, dos outros países. E eles querem emprestar o seu dinheiro com garantias e com rentabilidade. O que nós temos, o que construímos – metros, aeroportos, auto-estradas, etc. – só é nosso em 25%. O resto, os 75% restantes devemos ao estrangeiro. E isto já é uma bola de neve. Na qual vamos entrar de pés e mãos e quase todos nos vamos magoar. E muito. E por muito tempo. O nosso PIB já está nos 300% abaixo. É verdade! Somem ao que é dito que se deve, mas que não corresponde à verdade, mais as dívidas dos metros, dos transportes colectivos por terra, por linha férrea e por ar; mais da TV e de tantas outras e chegam a este patamar! A “geração à rasca” de que tanto se fala, não é esta. A dos 15, dos 20, até dos 30 anos. Da minha filha ou dos vossos filhos. A geração à rasca começa a ser a minha, dos da minha idade ou com mais alguns. Esta pode ter no horizonte 10/20 anos de sufoco, mas depois respira; e a minha e a de outros como eu? O que vamos ter daqui a 10/20 anos? Quem nos garante, hoje, que depois disso ainda cá estamos. E se estivemos, de que vivemos?

Poder fraco, Estado fraco, democracia fraca, justiça fraca, tudo fraco? Nem tudo. Se quisermos, se deixarmos de lado as capelinhas e pensarmos a sério, mas a sério no país, podemos ganhar o futuro. O nosso, sim, mas muito mais o dos nossos filhos. Foi assim que eu vi e vivi este debate! Gostei e por isso aqui o deixo, como vi. Venha o próximo, já anunciado e com alguém também de peso. Bagão Félix. Quando? Estejam atentos. Como estamos em tempo de Páscoa, lembro-me de um cântico que deveríamos saber de cor e cantar todos os dias. “E preciso renascer… Nós, cada um, todos os dias. E assim renascerá o País…

Manuel Cruz