“A democracia está doente” Outra noite grande do Clube dos Pensadores. Outra vitória para Joaquim Jorge. Desta vez um convidado de perto. Do outro lá de Gaia. Do Porto, nado e criado. Boavisteiro; gosta de corridas e de carros; de desafios difíceis; de sorriso mais frequente do que se pensa, mas duro; solidário mas não submisso; ganhou eleições sem contar; disse que as iria perder a seguir, mas teve maioria absoluta; uma e outra vez.
Agora, por força de uma lei que o “Zé” é obrigado a aceitar, mas que não entende totalmente, vai-se embora. Os bons são iguais aos maus ou aos menos bons; têm o mesmo tempo de vida legal; Só deixaram de lado uns tantos intocáveis por conveniência deles. Se são eles que fazem as leis e as aprovam, qual o mal? Rui
Rio veio a Gaia como tantas vezes deverá fazer; não sei se tantas ou mais vezes do que vai mais para norte. Veio a Gaia a convite do Clube dos Pensadores, ao palco do debate político criado por Joaquim Jorge. Falou de muitas coisas e bem, mas não falou do fim de semana de Matosinhos, apesar de JJ o “picar”! Não foi isso que estabelecemos há dois ou três meses! Falou da democracia e do país. Uma e outro bem doentes. E do poder político. Fraco. Incapaz de se impor e de resistir. E da justiça que não existe ou se existe é em benefício do que peca. Do que erra; do que corrompe e se corrompe. E da imprensa. Do seu papel e da sua função. Que desconhece o cidadão até ele entrar na política. A partir daí, agride-o, ataca-o, vilipendia-o. Todos os cidadãos são exemplares até serem políticos, disse.
E das soluções próximas e a prazo. Urge que os três partidos nascidos nesta democracia se entendam; se ou outros dois quiserem, que venham. É preciso porem-se em prática medidas drásticas e reformas sérias. O que se tem feito é que umas e outras ficam sempre a meio do caminho. Não acusemos o FMI do que não é culpado. Não foi ele que nos levou a este défice. A nossa dívida interna, a que devemos uns aos outros é enorme, mas mais grave, não mensurável ,é a que devemos aos outros, dos outros países. E eles querem emprestar o seu dinheiro com garantias e com rentabilidade. O que nós temos, o que construímos – metros, aeroportos, auto-estradas, etc. – só é nosso em 25%. O resto, os 75% restantes devemos ao estrangeiro. E isto já é uma bola de neve. Na qual vamos entrar de pés e mãos e quase todos nos vamos magoar. E muito. E por muito tempo. O nosso PIB já está nos 300% abaixo. É verdade! Somem ao que é dito que se deve, mas que não corresponde à verdade, mais as dívidas dos metros, dos transportes colectivos por terra, por linha férrea e por ar; mais da TV e de tantas outras e chegam a este patamar! A “geração à rasca” de que tanto se fala, não é esta. A dos 15, dos 20, até dos 30 anos. Da minha filha ou dos vossos filhos. A geração à rasca começa a ser a minha, dos da minha idade ou com mais alguns. Esta pode ter no horizonte 10/20 anos de sufoco, mas depois respira; e a minha e a de outros como eu? O que vamos ter daqui a 10/20 anos? Quem nos garante, hoje, que depois disso ainda cá estamos. E se estivemos, de que vivemos?
Poder fraco, Estado fraco, democracia fraca, justiça fraca, tudo fraco? Nem tudo. Se quisermos, se deixarmos de lado as capelinhas e pensarmos a sério, mas a sério no país, podemos ganhar o futuro. O nosso, sim, mas muito mais o dos nossos filhos. Foi assim que eu vi e vivi este debate! Gostei e por isso aqui o deixo, como vi. Venha o próximo, já anunciado e com alguém também de peso. Bagão Félix. Quando? Estejam atentos. Como estamos em tempo de Páscoa, lembro-me de um cântico que deveríamos saber de cor e cantar todos os dias. “E preciso renascer… Nós, cada um, todos os dias. E assim renascerá o País…
Manuel Cruz