Os cidadãos comuns, que de finanças só sabem o que lhes afecta a bolsa, viram o seu poder de compra descer drasticamente durante os últimos seis anos e como antes nunca tinha sucedido. Não colhe a desculpa da crise internacional. Esta só estalou na segunda metade de 2008 e apenas agravou o mal que se iniciou em 2005. Das finanças públicas apenas sabem que há um défice orçamental enorme e uma dívida externa colossal. Esse grande grupo de pessoas, em que me integro, vê com tristeza o governo a mendigar, pelo mundo fora, um emprestimosinho (mesmo a juros exorbitantes) para poder pagar as suas despesas.
Ao mesmo tempo, vê que o governo continua a pagar alguns ordenados muitíssimo altos, a encomendar fora trabalhos com elevados custos e muitos outros gastos que não parece serem absolutamente necessários. São numerosos os casos que aparecem na comunicação social e muitos que a comunicação social não denuncia mas nos são enviados por e-mail. Também não tem sido capaz de desenvolver a nossa economia, com alguns crescimentos do PIB ridiculamente baixos e nalguns anos negativo. Temos assistido a uma criminosa destruição da nossa agricultura, uma parte muito importante da economia, que os nossos economistas não sabem que o é.
Pensam que a economia é apenas comércio e indústria, como se prova pelo nome "da Economia" que dão ao ministro daquela pasta. Se não sei o que se pode fazer na indústria e nas pescas (embora suspeite que se pode fazer muito), na agricultura estou farto de o indicar o que é urgentemente necessário e o governo... faz exactamente o oposto! Em 2002 publiquei um artigo a que, imodestamente, pus o título de "Considerações sobre o défice orçamental e a forma de o anular". Ali indico uma série de medidas, tanto em relação às despesas do estado como sobre as receitas. Que eu saiba, nenhuma foi adoptada. Porquê? Ouvimos constantemente falar em "ajuda externa" como algo a que talvez seja necessário recorrer, embora o que vemos de pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro parece que já é ajuda externa. Todos sabemos que em Portugal há bastante dinheiro. Isso é evidente quando se sabe que as habitações mais caras se vendem mais facilmente que as mais baratas, se vendem no país muitos automóveis de elevado preço, espectáculos caros esgotam facilmente, etc.
Para além das grandes fortunas, dos grandes magnates, há muita gente com ordenados altos, alguns altíssimos e também outros que ainda conseguem guardar algum dinheiro, todos eles formando um grupo de potenciais investidores. Porque é que o governo se vai financiar ao estrangeiro? Se pagar aos portugueses metade do que está a pagar aos estrangeiros (mas não o que está a pagar aos Certificados de Aforro...) terá, pelo menos, alguma "ajuda interna". Com uma enorme vantagem: o dinheiro desses juros, em vez de ser deitado pela janela fora, entra na economia nacional. Mas isto são raciocínios de quem não sabe de finanças.
Miguel Mota