O progresso das várias tecnologias acarreta consigo alguns problemas que convém prevenir, sempre que possível, para evitar a perda de algo valioso. O aparecimento de novos processos, com algumas vantagens, pode fazer esquecer elementos armazenados de outras formas e, às vezes, mais tarde, os equipamentos mais modernos são incapazes de "ler" o que foi escrito noutra linguagem. Isso pode acontecer em diversos sectores e, para o prevenir deve-se, enquanto isso é possível, "copiar" esses elementos para um formato com que o antigo ainda seja compatível. Quando, em 1982, recebi o primeiro computador (ainda sem disco rígido) para o Departamento de Genética, ao tempo sob a minha direcção, na Estação Agronómica Nacional, o armazenamento de dados era feito em discos flexíveis de 8 polegadas (as "flopy disks"). Algum tempo depois, com outros e mais avançados computadores, eram usadas as disquetes mais pequenas, com a então muito boa capacidade de 1,4 MB. O problema é que as "drives" (onde se inseriam as disquetes para as ler ou para nelas gravar mais dados) não liam as "flopy disks" e disseram-me não ser possível passar os dados ali armazenados directamente para os novos computadores ou para disquetes. Com a ajuda dum colega mais entendido que eu, apenas se conseguiu, com um computador velho mas operacional, imprimir os dados armazenados nas "flopy disks". Em 2001 comprei, para meu uso pessoal, um iMac mas, como já não trazia incorporado o leitor de disquetes ("drive"), tive de comprar um, como acessório, pois tinha nelas armazenados imensos dados. Em finais de 2008, o meu filho (que é entusiasta dos MacIntosh) convenceu-me a comprar um iMac de modelo mais recente, com um grande ecran de cristais líquidos, isto é, sem o tubo de raios catódicos, como nas televisões "antigas". Transferi directamente para ele os dados que estavam armazenados no anterior computador e, quando pensei que estava tudo bem, fiquei surpreendido quando ele me disse que não era capaz de ler alguns dos documentos numa versão mais antiga do programa Word. Felizmente foi possível levar de novo esses documentos ao iMac antigo, fazer um "save as" ("guardar como") numa versão mais moderna do Word, que não é a que o novo tem, mas que ele já consegue ler, para não ficarem mesmo perdidos para sempre. Os gravadores de cassetes audio, que em muitos casos substituíram os que usavam as bobines de fita mais larga, estão agora já substituídos por gravadores digitais. O que era guardado em bobines ou cassetes audio está agora a ser guardado em CDs ou DVDs. Há gravadores que permitem passar directamente o que está em cassetes audio ou nos antigos discos usados para música (de 78, 45 ou 33 rotações), directamente para digital. Também há gravadores que copiam directamente de cassetes vídeo VHS para DVDs. E penso que há alguns que combinam estes sistemas. Escrevo estas linhas para alertar as pessoas que têm gravações antigas para a conveniência de as copiarem para sistemas mais modernos, para evitar que um dia seja muito difícil encontrar forma de recuperar esses dados valiosos e ficarem sem meio de ver ou ouvir as suas gravações. Lembro que, se não fosse a "Pedra de Roseta", talvez ainda hoje não fosse possível ler a escrita dos egípcios antigos. O problema de hoje é o mesmo do que o de há milhares de anos.
Miguel Mota
professor universitário
Cascais- Lisboa