Na passada sexta-feira, 18 de Fevereiro, o Primeiro-ministro José Sócrates veio ao distrito de Bragança colocar a primeira pedra, assumindo assim segundo os nossos usos e costumes, o inicio da construção da barragem hidroeléctrica na foz do rio Tua.
É óbvio que para lá da mensagem política, a pedra agora colocada pretende calar a boca e silenciar os numerosos protestos que nos últimos cinco anos se levantaram face à decisão do Governo concretizar o chamado Plano Nacional de Barragens, tendo em vista responder às necessidades nacionais e reduzir os custos com a importação de energia dos países vizinhos.
Para o Primeiro-ministro, como lhe é peculiar, gritar alto e esbracejar com energia é uma estratégia que às vezes resulta para assustar os opositores. Certo é que no espírito de muitos portugueses que o ouviram, ainda restam numerosas dúvidas sobre a vantagem de construir a dita barragem! É claro que haverá sempre argumentos! Uns a favor e outros contra! Mas se nos dizem, os entendidos, que a reconversão das barragens de Miranda do Douro e Picote, a custos reduzidos, podem aumentar a sua produção a níveis próximos da futura barragem do Tua e que a recuperação da sua linha ferroviária com uma ligação ao transporte de alta velocidade a norte de Bragança seria um formidável contributo para o desenvolvimento do nosso distrito, ficamos compreensivelmente com sérias duvidas sobre o real interesse do projecto que Sócrates veio agora formalizar.
Ao que se sabe, os estudos previamente efectuados sobre o impacto ambiental e vasto leque de potencialidades regionais, não resistiram à pressão e fúria lucrativa da EDP, cujo gigantismo traduzido nas remunerações alarves dos seus gestores, não olha aos reais interesses das populações residentes que pouco terão a ganhar no futuro.
A breve trecho, a metade sul do distrito de Bragança, cujo panorama geográfico então adulterado com a criação de dois grandes lagos artificiais à custa do Tua e Sabor, verá destruído para sempre valores únicos da ruralidade e da cultura campesina que tem uma estética própria e que nem mesmo a prometida reserva natural conseguirá manter ou remediar.
Daquilo que os “media” nos trouxeram, para além da lengalenga repetida e gasta a prometer investimentos que ninguém conhece e melhores dias aos Bragançanos, ninguém leio ou ouviu uma palavra sobre as vitimas mortais da linha do Tua, nem sequer aos inquéritos cujas conclusões ainda permanecem no segredo dos gabinetes….
Uma falha de memória de Sócrates, inaceitável, mas que rapidamente cairá no esquecimento.
José Manuel Pavão
Médico