O século XX foi um século sem paralelo na história humana, porque foi o século em que o mundo se tornou realmente mais pequeno. Com a terceira Revolução Industrial, a Revolução da Informação, com os desenvolvimentos nos transportes, com guerras que tomaram uma dimensão verdadeiramente global e com uma completa e total redistribuição do poder mundial, este foi sem dúvida um século de ruptura e de evolução.
As nações e as comunidades a dada altura sofrem transformações e adquirem de certa forma “o espírito do século”, ou seja, as transformações globais que ocorrem na comunidade mundial têm tendência a afectar e alterar a matriz comportamental dos Estados e dos seus habitantes. Esta encarnação do “espírito do Século” pode no entanto não coincidir com o Século em si, isto é, o espírito do século XX num determinado Estado pode não coincidir como espaço temporal desse mesmo século (1901-2001). Este é um dos pontos que o historiador Fernando Manuel Pimenta explora no seu livro «Portugal e o Século XX: Estado-Império e Descolonização (1890-1975)». Fernando Pimenta afirma que o Século XX português não correspondeu ao espaço temporal do Século XX, tendo-se iniciado com o ultimato britânico de 1890 (que acabou por ser um dos factores responsáveis pela instauração da República), desenvolvido com a criação de uma nova organização territorial que correspondeu à criação de um Estado-Império e acabou com o desmembramento desse Estado-Império em 1975. A partir de 1975 o século XX português, que foi um século de evolução e mudanças terminou. Mas o que encontramos após 1975?
Em 1975 o Estado-Império português desmoronou-se, e o “Portugal Europeu” vendo-se amputado das regiões que constituíam a base do seu Estado-Império, teve a necessidade de se reinventar. Esta capacidade de Portugal se redefinir não era nova: já anteriormente, aquando a perda do Brasil, Portugal demonstrou ter a capacidade de redefinir os seus interesses estratégicos, apostando num desenvolvimento das suas possessões Africanas e Asiáticas, mas no entanto, em 1975 o domínio português circunscreveu-se ao território europeu do que tinha sido um dos maiores Impérios Mundiais, pelo que havia necessidade de encontrar um novo caminho e a possibilidade de fazer parte das Comunidades Europeias foi o objectivo traçado (e aliás atingido) que supostamente iria fazer despertar com um novo alento as energias de Portugal e transporta-lo para o século XXI.
Actualmente verificamos que o nosso “sonho europeu” não foi o suficiente para despertar as energias e potencialidades que Portugal possui e que revelou ter no passado e que embora tenhamos ultrapassado o século XX ainda não encarnamos o espírito do século XXI. A nossa “europeização” foi extremamente benéfica e certamente que as vantagens (tangíveis e intangíveis) que temos em pertencer à actual União Europeia são infinitamente superiores às desvantagens, mas no entanto mantêm-se uma espécie de nuvem negra sobre o País. Pertencemos à União Europeia e a nossa “europeização” ainda continua em pleno curso mas não nos podemos esquecer que somos uma nação atlântica e nunca demonstramos uma particular apetência para a Europa. Dito isto, não podemos deixar de pensar que a nossa porta para o século XXI está no “Oceano Moreno” e que o desenvolvimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa pode ser o catalisador necessário para que este País perdido entre séculos finalmente encontre o seu tempo e alinhe com o século XXI, que aliás pode bem vir a ser “o Século da Lusofonia”.
Mauro Martins
As nações e as comunidades a dada altura sofrem transformações e adquirem de certa forma “o espírito do século”, ou seja, as transformações globais que ocorrem na comunidade mundial têm tendência a afectar e alterar a matriz comportamental dos Estados e dos seus habitantes. Esta encarnação do “espírito do Século” pode no entanto não coincidir com o Século em si, isto é, o espírito do século XX num determinado Estado pode não coincidir como espaço temporal desse mesmo século (1901-2001). Este é um dos pontos que o historiador Fernando Manuel Pimenta explora no seu livro «Portugal e o Século XX: Estado-Império e Descolonização (1890-1975)». Fernando Pimenta afirma que o Século XX português não correspondeu ao espaço temporal do Século XX, tendo-se iniciado com o ultimato britânico de 1890 (que acabou por ser um dos factores responsáveis pela instauração da República), desenvolvido com a criação de uma nova organização territorial que correspondeu à criação de um Estado-Império e acabou com o desmembramento desse Estado-Império em 1975. A partir de 1975 o século XX português, que foi um século de evolução e mudanças terminou. Mas o que encontramos após 1975?
Em 1975 o Estado-Império português desmoronou-se, e o “Portugal Europeu” vendo-se amputado das regiões que constituíam a base do seu Estado-Império, teve a necessidade de se reinventar. Esta capacidade de Portugal se redefinir não era nova: já anteriormente, aquando a perda do Brasil, Portugal demonstrou ter a capacidade de redefinir os seus interesses estratégicos, apostando num desenvolvimento das suas possessões Africanas e Asiáticas, mas no entanto, em 1975 o domínio português circunscreveu-se ao território europeu do que tinha sido um dos maiores Impérios Mundiais, pelo que havia necessidade de encontrar um novo caminho e a possibilidade de fazer parte das Comunidades Europeias foi o objectivo traçado (e aliás atingido) que supostamente iria fazer despertar com um novo alento as energias de Portugal e transporta-lo para o século XXI.
Actualmente verificamos que o nosso “sonho europeu” não foi o suficiente para despertar as energias e potencialidades que Portugal possui e que revelou ter no passado e que embora tenhamos ultrapassado o século XX ainda não encarnamos o espírito do século XXI. A nossa “europeização” foi extremamente benéfica e certamente que as vantagens (tangíveis e intangíveis) que temos em pertencer à actual União Europeia são infinitamente superiores às desvantagens, mas no entanto mantêm-se uma espécie de nuvem negra sobre o País. Pertencemos à União Europeia e a nossa “europeização” ainda continua em pleno curso mas não nos podemos esquecer que somos uma nação atlântica e nunca demonstramos uma particular apetência para a Europa. Dito isto, não podemos deixar de pensar que a nossa porta para o século XXI está no “Oceano Moreno” e que o desenvolvimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa pode ser o catalisador necessário para que este País perdido entre séculos finalmente encontre o seu tempo e alinhe com o século XXI, que aliás pode bem vir a ser “o Século da Lusofonia”.
Mauro Martins