21/09/2010

Freio a fundo nas grandes obras


A notícia do cancelamento das grandes obras do TGV e nova travessia do Tejo foi um acto de teatro em que praticamente se desenvolveram todos os géneros desta arte. Com efeito, tivemos o lado dramático, o cómico e a tragicomédia.

O ministro anunciou o cancelamento, porque a situação económica e financeira do momento actual, interna e externa, não aconselham a manutenção deste calendário. É uma peça dramática, anunciada tardiamente, pois o governo perdeu a oportunidade de recuar no seu projecto, em pleno “tsunami” económico, calando a oposição e acalmando o eleitorado.

Isto passou-se de manhã. Mas à tarde, o Secretário de Estado Paulo Campos, cujo mérito conhecido é ser filho do ex-deputado António Campos, anunciou que o ministério está em condições de lançar estes concursos dentro de 2,5 meses. Sem dúvida que é a vertente da comédia. Só quem não faça a mínima ideia que tipo de concurso são estes é que pode achar normal cancelar, para lançar 2,5 meses depois. Nem daqui a 2,5 anos há condições para tal, nem sequer é aconselhável.

Não consigo entender como é que José Sócrates não percebeu que tem um grave problema no Ministério das Obras Públicas, cujos titulares são artistas de teatro tragicómico. Um Secretário, que desautoriza um Ministro, que não sabe o que anda a fazer. Aliás, como académico, António Mendonça (AM) arrebanhou umas dezenas de comparsas para assinarem um manifesto a favor das obras faraónicas para contrapor um outro contra tais obras nesta conjuntura, assinado por nomes como Silva Lopes, Daniel Bessa, Hernâni Lopes, Campos e Cunha, Ferreira do Amaral, entre outros: pela bravata e favor a Sócrates, AM ganhou de bandeja o ministério, para o qual não tem o menor preparo, como está fartamente demonstrado. Só Sócrates não percebe que é esta gente que o afunda dia a dia.

Só não considero uma comédia, porque é trágico para o nosso país. Um governo desnorteado, desesperado e patético. Não prevê, não age, nem reage, só desperdiça. Que pior poderíamos ter?

Para piorar tudo, o PSD resolveu dar tiros no pé. Após um período de elan do novo líder, o afundanço com a estratégia adoptada para a desastrada revisão constitucional. Pacheco Pereira já começou a morder quem tal delineou. Não tardará o aparecimento dos restantes coveiros deste partido de alternância governativa. É a tragédia completa.

Já ando à procura de país para fugir desta arena, porque não vejo alternativas no horizonte e custa-me participar deste teatro.

Mário Russo