23/01/2010

Quatro anos de Cavaco na Presidência


Mário Russo




Faz quatro anos que Cavaco Silva foi eleito Presidente da Republica e várias análises serão feitas à guisa de balanço do seu consulado, alimentadas pela recente disposição de Manuel Alegre lhe disputar a reeleição.

Cavaco teve 2 anos de cooperação estratégica com Sócrates que foram bons, até que este lhe pregou a partida com o Estatuto dos Açores. A reacção de Cavaco em directo na TV foi enigmática, pouco clara e desproporcionada. Parecia que anunciava o desaparecimento dos Açores por um tsunami, tal a gravidade que emprestou ao seu já austero semblante. Pese embora tenha razão substantiva na diatribe pregada pelos incautos socialistas, a resposta confusa e em tempo inadequado, colocaram-no ao nível de Sócrates neste episódio triste e negro.

Daí em diante alguns desaguisados se seguiram. As trapalhadas em que Sócrates se metia, ou lhe metiam (Freeports, licenciatura, projectos, Cova da Beira, etc) alimentaram em Cavaco a ideia de que o desgaste seria fatal a Sócrates e poderia devolver ao PS o que Sampaio fez ao PSD e a Santana Lopes. Ledo engano.

Cavaco também saiu-se mal no episódio das escutas e em vez de silenciar o caso (que estava morte), deixou que se abrisse de novo a ferida com o artigo de Fernando Lima este fim-de-semana. Inacreditável. Sem dúvida que Cavaco surpreendeu-me porque tinha-o em conta como um disciplinador e não soube ou não tem tido mão sobre os seus assessores, que fazem o que querem (ou pode dar essa ideia, que vem a dar no mesmo).

Também acho que não ficam bem os eternos tabus de Cavaco. Não responde na maior parte dos casos a questões pertinentes, porque não é altura ou porque não quer interferir com isto ou aquilo. Até sobre a candidatura de Manuel Alegre não se quis pronunciar, quando era mais fácil dizer que “era legítimo, que é uma personalidade nacional que até já concorreu com ele (e perdeu), que tem toda a legitimidade em desejar ser presidente da república, mas agora ele é que é presidente e há coisas mais importantes a tratar, etc. Poderia dizer que qualquer português maior de 35 anos poderá candidatar-se, porque não MA?, etc.

Cavaco terá de pensar bem como vai terminar o seu mandato e como preparar a sua recandidatura a Belém, sem tabus nem com a tentação de se substituir ao esfrangalhado PSD, na oposição ao governo. Como diz o povo, cada macaco no seu galho. Ao governo o que este deve fazer e à presidência a sua magistratura. Deve enterrar os tabus e deixar de se esconder em cortinas de fumaça. Parte com vantagem para a reeleição, mas não pode perder mais capital de confiança.


engenheiro, professor universitário e co-fundador do CdP