15/11/2009

CRISTO NEGRO

Vi-te hoje,
Maconde,
amarrado no garrote
da inocência!

Vi os teus braços
suspensos na madrugada
que nascia.
Asas negras
pairando
sobre esta terra de África
que chora
o lapso de uma esperança!

Rosas de sangue
nasciam do couro
do látego
e floriam
o negro do teu corpo!

Rosas de sangue,
chagas de pureza,
pegadas de Branco
no negro do teu corpo!


De sangue
seriam as lágrimas
que não brotaram
dos teus olhos enxutos!

De sangue
era o silvo
do chicote
que não arrancava
da tua boca
o grito de uma traição!

Vi, Maconde,
no gólgota da tortura,
de asas abertas,
a própria liberdade,
clamando,
no silêncio da selva,
a sua hora de redenção!

Vi, Maconde,
na tatuagem serena
do teu rosto,
um novo Cristo,
um Cristo Negro,
Cristo Recrucificado!

Francisco Azevedo Brandão