31/08/2009

A agricultura dita "biológica"


Os portugueses parece que não se apercebem do enorme ridículo que é chamar "biológicos", por oposição a outros que o não são, a produtos agrícolas obtidos sem aplicação de produtos de síntese, nomeadamente fertilizantes e pesticidas (Expresso de 22-8-2009).

Não discuto os métodos preconizados, alguns deles apenas princípios de boa agricultura que durante anos ensinei aos meus alunos dos cursos de engenharia agronómica. Critico a ridícula designação de "agricultura biológica" e dos seus produtos "biológicos".


Enquanto as fábricas não fizerem couves sintéticas ou bifes sintéticos, todos os produtos agrícolas são biológicos, isto é, plantas e animais, com o seu código genético, a característica fundamental dos seres biológicos. Se uma couve que foi adubada com sulfato de amónio deixou de ser "biológica", uma pessoa que tomou uma aspirina já não é um ser biológico. E teríamos que considerar uma "medicina biológica", aquela em que o médico nunca receitaria produtos de síntese.

Alguns países europeus como Portugal e a França usam essa designação errada. A Inglaterra usa o nome também ridículo de "agricultura orgânica". Couves inorgânicas ou "não biológicas" são apenas as de barro das Caldas. Uma designação aceitável para esse tipo de agricultura (e esses produtos) é "ecológica", como é usada em Espanha, por ser a agricultura que pretende aproximar-se das condições naturais.

Também seria interessante que explicassem o que é "agricultura tradicional" já que a forma de agricultar a terra tem estado em constante evolução, como resultado da investigação agronómica, que tem permitido obter cada vez mais e melhores alimentos e sem a qual metade da humanidade já teria morrido de fome.

MIGUEL MOTA, Oeiras