Mário Russo
Ciclicamente aparecem movimentos de cidadãos descontentes (MMS, MEP, etc) com o rumo da política interpretada pelos partidos políticos.
São quase sempre pessoas bem-intencionadas e no entanto não conseguem sequer eleger um deputado. A razão está na tradicional desconfiança do português relativamente a “novidades”. De facto, os partidos políticos são conhecidos e estão cristalizados na nossa sociedade. Qualquer novidade política fora deste quadro, surge aos olhos do povo como oportunismo, por analogia com o comportamento de muitos políticos. Ainda assim preferem que seja “mal com eles, pior sem eles”.
Será então uma fatalidade ter de viver com este tipo de políticos e de políticas? Não necessariamente, mas a regeneração do sistema político tem de ser feita por dentro, mesmo sabendo-se que não é nada fácil. Porque um movimento cívico, para se impor na sociedade, terá primeiro de mostrar a sua competência por um longo período e sem ambições de poder, para depois ter a veleidade de transformar a sociedade fora dos partidos, assumindo-se como força política. No entanto, o que se vê é a ansiedade que esses movimentos têm por lugares de poder. Estão um ou dois anos a fazer propaganda e logo arrecadam umas assinaturas para eleições.
Por mais sérias e competentes que sejam essas pessoas, emerge uma questão ao anónimo eleitor: o que de facto querem “esses senhores”? Porque na verdade podem ser vendedores da “banha da cobra”. Ninguém os conhece e de repente prometem seriedade, nova forma de fazer política, etc. Por que cargas de água se vai acreditar? Só por profissão de fé.
Se a um político se lhe deveria exigir provas dadas de competência, antes de servir a pátria, porque não exigir o mesmo a quem se posiciona no mesmo sentido de disputa eleitoral?
Vem a propósito de recorrentes perguntas sobre o Clube dos Pensadores: que tem feito crítica, que tem propiciado discussão cívica interessante, que tem propiciado cidadania, mas para quando assumir-se como força política alternativa? Pessoalmente acho que não tem de se assumir poder, mas continuar como laboratório onde fervilham ideias, algumas “perigosas”, como é dar voz a quem não tem vez. É uma forma de servir, tão nobre ou mais que outras.
No dia que a ansiedade e a tentação forem maiores que o bom senso actual, morre na praia o conceito, como é usual dizer-se.
Veja-se o caso da petição “on-line” de um grupo cívico, ao que presumo, a sugerir cidadania activa por considerar que há défice de ideias em Portugal para uma governação eficaz, eficiente e democrática. Sendo em parte verdade, também revela que não conhece o que se vai fazendo em Portugal neste domínio, como é concretamente o trabalho desempenhado pelo Clube dos Pensadores e de Joaquim Jorge em particular. Como poderão ter credibilidade desconhecendo o próprio país?
Oscar Wilde dizia que “as boas intenções têm sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram qualquer coisa foram as que não tiveram intenção alguma”. Neste aspecto estou com o Oscar.