19/04/2009

17 de Abril de 1969 – SEMENTE DE LIBERDADE


Há 40 anos atrás, Coimbra estava em ebulição. Naquela manhã de 17 de Abril de 1969 teve lugar o episódio que levou ao rubro o conflito conhecido na história e na memória do movimento estudantil português como «a crise de 69», e que foi o início de um processo de contestação estudantil em que "o objectivo era pôr em causa a Universidade para pôr em causa a sociedade", e que viria a terminar com a "Revolução dos Cravos" cinco anos mais tarde no 25 de Abril de 1974, na medida em que conseguiu bloquear a acção do Governo e consciencializar social e politicamente as gerações futuras.
Durante a cerimónia da inauguração do Edifício da Matemática, o então presidente da Associação Académica de Coimbra, Alberto Martins, actual líder do grupo parlamentar do PS, pediu a palavra ao Chefe de Estado para apresentar as reivindicações da academia, incidente que marcou o início da Crise.
Por causa desse simples pedido de palavra, a cidade viu-se cercada pela Polícia, houve greve às aulas e exames, a Associação Académica foi demitida e os seus dirigentes suspensos da UC. Houve assembleia Magna e foi decretado o luto académico.

Foram dias quentes. A Briosa foi à final da Taça. A Academia estava de luto académico e quis jogar de branco, cor do luto académico, mas não foi autorizada a tal. Subiram ao campo de capa ao ombro.
Nas bancadas o jogo era outro e os estudantes que vieram de Coimbra traziam cartazes que clamavam por democracia e liberdade para exibir no jogo. A PIDE tentava capturar os cartazes, mas estes sumiam ante a presença dos agentes e surgiam no lado contrário. Foi a primeira vez que um jogo da Final da Taça não foi transmitido na TV.
Foram tempos dignificantes para os Estudantes de Coimbra. A Capa e a Batina dos estudantes de Coimbra deram um decisivo contributo para a Liberdade e Democracia do País.
O Abril de Coimbra prenunciou outro Abril.
Mais do que uma data histórica, o 17 de Abril de 1969 marcou toda a memória colectiva, não apenas da Academia como também de toda a cidade de Coimbra e da sociedade portuguesa.
Nos anos que se seguiram, mas principalmente após a instauração da democracia, a data passou a ser celebrada como um momento de profundo significado simbólico para a vida associativa coimbrã, a sua autonomia e o seu impacto no país, bem como para todos aqueles que, além de se identificarem com os ideais da liberdade e da justiça social, tiveram o privilégio de ser estudantes na Universidade de Coimbra.
Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!

Pedro Barosa
Antigo Estudante da Universidade de Coimbra