11/03/2009

Angola é o rumo certo


Mário Russo

A visita oficial do Presidente de Angola José Eduardo dos Santos a Portugal pela primeira vez tem um significado muito importante que só o Bloco de Esquerda não percebeu.
Também li e ouvi alguns analistas “de bancada” a tecer críticas à democracia e aos direitos humanos em Angola, na esteira de algumas vozes da oposição naquele país. Reconheço que não se vive ainda em Angola numa democracia consolidada, mas vive-se em paz, em liberdade e em democracia possível e realista.

Estive recentemente em Angola em missão de ensino/investigação e constatei isso mesmo. Há jornais activos da oposição que convivem com os órgãos de comunicação oficial. Deve relembrar-se que é a Eduardo dos Santos que se deve a pacificação do país e a sua manutenção até aos dias de hoje, porque ele é avesso ao “sangue” tão fertilmente derramado em África. O povo angolano confia no seu Presidente e deu-lhe uma maioria absoluta limpa e legítima nas legislativas. Evidentemente que não é a democracia da Suécia. Mas queriam que fosse?
É preciso compreender que o país viveu um longo período de guerra fratricida e destruidora, imposto por um odioso senhor da Guerra. Por outro lado, Angola é composta de povos com níveis de desenvolvimento sócio-cultural bem distintos, para quem a democracia nada lhes diz, razão porque há défice de participação cívica dos cidadãos e no seu entendimento.
Por tudo isto é incompreensível análises e críticas gratuitas à situação, quando o importante é saudar a cooperação entre Portugal e aquele país, em domínios estratégicos seleccionados pelos angolanos, que sabem o que querem, para onde, e com quem ir.

José Eduardo dos Santos veio deixar a sua mensagem de que quer ir com os portugueses. A Portugal cabe dar a resposta à altura deste convite. Não é só na alta finança e nos mega-negócios, como a imprensa realça, mas a outros níveis: agricultura, infra-estruturas, água, energia, ensino, formação profissional, investigação e emigração programada de portugueses, para criar mais empregos e bem-estar para ambos os povos, porque o povo está arredado dos luxos e facilidades de vida que o petróleo e diamantes concedem.

É hora de perceber que o parceiro estratégico de Portugal não está na Europa, mas em África e é preciso respeitá-la com igualdade. O governo português tem de oferecer já tratamento de reciprocidade com o povo irmão. Angola e Portugal só têm a ganhar, e não é pouco, se estabelecerem uma parceria estratégica de respeito inter-pares. Esta cooperação é que fará elevar os níveis de participação e de aperfeiçoamento da vida democrática naquele país cujo povo é extraordinário.