03/02/2009

Porto livre para matar a confiança


Mário Russo

Bem pode o Sr. Professor Marcelo dizer que são normais as figuras de proa de governos serem alvo de permanentes investigações, como foi o caso de Mitterrand e Helmut Kol, e que os portugueses têm de se habituar, porque assim é em democracia.

Marcelo esqueceu-se que estamos sob a alçada da maior roubalheira que a humanidade conheceu. O mundo acordou a saber que afinal as instituições em que confiava eram governadas por ladrões legalmente empossados. Que afinal, as instituições sérias, não o eram. Que os reguladores, bancos centrais, centrais noticiosas da especialidade, jornalistas da área económica, agências de ratting, revisores de contas, etc., faziam o mesmo jogo para defraudar a verdade, porque havia participações cruzadas em negociatas.

Instalou-se uma desconfiança tal que é a raiz da crise que se vive, com notícias de milhares de despedimentos por todo o lado. Todos desconfiam de todos. A violência social vai deflagrar.
Num quadro destes como é que pode um país viver com a dúvida do seu magistrado máximo, o PM, ser suspeito de participar de um esquema mafioso?

Mesmo que não seja constituído arguido e não tenha culpa, como espero que não tenha, já está diminuído pelas ligações familiares demasiado evidentes neste intrincado processo, estranhamente só trazido à liça em vésperas de eleições.

Um país que precisa de um timoneiro forte e audaz, não pode ter à sua frente alguém ferido de morte, como está Sócrates, que não conseguirá reverter a seu favor esta contrariedade, porque a evolução da economia não vai permitir.
De facto, a horda de descontentes vai engrossar e com ela a revolta e o descontentamento. Não haverá lugar a complacências, nem perdões.

Este não é o caso dos projectos da Guarda aprovadas na Câmara em uma semana, nem o caso da sua licenciatura com provas enviadas por fax. É um caso complexo e contraditório de grandes “luvas” em plena crise mundial de desconfiança pela roubalheira que as donas brancas realizavam.

Sócrates tem uma saída. Pedir a demissão e salvar o país da falta de acção. Se o não fizer, será frito em lume brando até à sua extinção. Não há margem para teatro trágico.