Neste momento, em que assistimos com olhar critico e preocupado, a uma das revoluções dos piores demónios actuais, e em que projectamos o futuro que de modo dramático, tudo parece chamado a triunfar ou morrer, vemo-nos obrigados a olhar para trás, para os primórdios da descoberta da lei e da natureza e para a criação de uma ordem universal, na qual o homem participa de um modo activo e responsável. Se uma ordem social não se fundamenta em valores universais, então ela é apenas a manifestação de uma qualquer relatividade.
Vivemos a moda sedutora do pós-modernismo, que é um luxo de quem presume que a sua vida não depende dos outros, e em que tantos se consideram mais cidadãos, mais co-responsáveis na coisa pública, e consequentemente mais interventores e co-decisores, necessário se torna que o conhecimento e a sua partilha de um pensamento politico legitimador seja mais alargado.
Vivemos confrontados com o paradoxo existencial humano, de que se sentimos que evoluímos, progredimos muito e ate possuímos já um poder imenso no âmbito das ciências e tecnologias, e do outro lado, vemo-nos sem grandes avanços, com o mistério da natureza e de nós próprios, do nosso viver humano.
Na verdade, devemos ter a devida atenção para a necessária humildade integral da autêntica sabedoria. E aqui sim, debruçamo-nos sobre a liberdade, a educação, a dignidade da pessoa humana, o papel da sociedade civil num Estado democrático plural.
Não há dúvida que o mundo, após a queda do Muro de Berlim, entrou na euforia do mercado capitalista puro, com os países mais fortes a arrastar os mais fracos. Em resposta às utopias realizadas pelo poder da violência colectiva que caracterizaram o séc. XX, o mundo foi conduzido para outros exageros, dos quais, um regresso ao capitalismo liberal mais puro, que pensava-se capaz de redistribuir a felicidade universal. O resultado foi sentido na pele dos portugueses, em que o mundo mais capitalista retomou as teses orçamentalistas que permitiram a Salazar sanar as finanças publicas num primeiro momento, e depois, amealhar meios de pagamento sem a exigível correspondente modernização do País.
Ainda hoje, os grandes países capitalistas vivem na vertigem do orçamentalismo sem que atinjam o nível de infra-estruturação que uma qualidade de vida exige, e ainda por cima lhes está a produzir graves e crescentes problemas sociais.
Na verdade, este estado doutrinal não resolve os problemas da sobrevivência digna da Pessoa Humana, mas precipita-se para o mundo das graves consequências económicas e sociais.
Eis-nos aqui, num momento de oportunidade de ruptura com o galopante capitalismo selvagem, que actualmente vai ao ponto de favorecer cleptocracias, em total esquecimento da Pessoa Humana, do Homem e Mulher interactivados, com Direitos, Deveres e Oportunidades Legítimas nas sociedades em que se inserem. Na verdade, o pensamento político-económico dominante, revela-se incapaz de conciliar eficientemente os Direitos, Liberdades e Garantias dos Cidadãos, com a liberdade do mercado. Esta ordem mundial, a continuar assim conduzirá a novas e poderosas antíteses sociais e políticas que se não se enquadrarem no Primado fundamental da Pessoa Humana, acabarão por reinventar velhas concepções totalitárias alimentadas pelos novos dogmas da grande finança internacional e por políticas cegas e coactivamente impostas, cilindrando a identidade e as necessidades humanas.
Na essência, os tempos correntes justificam e pressionam que se comece a trabalhar na construção numa nova ordem personalista, visto que, a nova ordem internacional que teve tempo e lugar no séc. XX, desgastou-se com os seus artifícios dolosos para toda a humanidade.
Ricardo Esteves
advogado / Madeira