Mário Russo
Os militares estão descontentes com o governo e terão tantas razões quanto têm os professores, os metalúrgicos e os restantes cidadãos portugueses afectados pelas medidas adoptadas por este governo. Não é por acaso que os sindicatos de quase todos os sectores estão descontentes e agendam acções de descontentamento.
O que parece totalmente descabido é consumar-se uma revolta nos quartéis, à boa medida das "republiquetas" das bananas da América Latina ou de África, perpetrada por “generais”, aqui foi o sr. General Loureiro dos Santos o porta-voz do movimento.
O general Loureiro dos Santos não é uma pessoa qualquer. Já desempenhou elevados cargos na hierarquia militar. Sabe bem que o que disse não foi inocente. Com a sua cara de anjo (mau) disse tão candidamente que o descontentamento nas hostes militares era enorme e poderia levar a que jovens militares fossem desagradáveis, etc. e tal.
Esta observação do Sr. General é uma arma assassina e terrorista desferida contra um governo, quer se goste ou não, foi eleito democraticamente e exerce o poder legitimamente. O Sr. General quer uma desordem e convocou subtilmente o levantar de rancho, porque os “jovens militares poderiam não se lembrar de fazer uns "disparatezitos”.
Até já se organizou um jantar de reunir tropas, onde “virgenzinhas” docemente teceram poesia ao descontentamento dos militares, saudosos de fazer um 25 de Abril por salários e regalias. Podem ter toda a razão, como tem o povo que está a ser arrolhado e estrangulado, ou como disse um Secretário de Estado aos funcionários públicos “ …. será trucidado”.
Mas não é desta forma desestabilizadora que os militares, que juram fidelidade à pátria e a sua defesa, que defendem os seus privilégios. A incerteza quanto ao futuro já reina no nosso dia a dia. A instabilidade é inimiga das boas decisões e a “bomba” lançada subtilmente pelo Sr. General não é bem-vinda em democracia. Lamentável atitude de quem se esperaria exactamente o contrário: discernimento e clarividência num momento de enorme turbulência nacional e internacional.