Mário Russo
A detenção do presidente do BPN e ex-secretário de estado do orçamento, Dr. Oliveira e Costa, é o primeiro sinal da podridão em que se encontra o sistema financeiro. Até o presidente de um banco privado vocacionado para gerir grandes fortunas, está a solicitar o aval do Estado. Falo do Banco do Dr. João Rendeiro, alcandorado a guru dos negócios até há bem pouco tempo. Uma vergonha dupla: a do próprio, pela desfaçatez, e do Estado se acudir, roubando aos contribuintes.
Já é do conhecimento que os tecnocratas assaltaram a direcção de bancos e de grandes empresas, conseguindo formatos de remuneração inacreditáveis, indexados a resultados manipulados, que os enriqueceram à tripa-forra, ao mesmo tempo que delapidaram os patrimónios de bancos e de empresas sólidas. Tudo na maior das legalidades, acompanhadas de reformas douradas, privilégios de marajás das Arábias, com a bênção política instalada.
É sustentável tamanha roubalheira? Claro que não é, e está à vista de quem duvidar. O próximo filme é o desemprego em massa e, quiçá a fome e violência social. Culpados? Devemos ser nós.
Quanto ao buraco do BPN, não é o que dizem. Vai para cima de 2,5 mil milhões de euros o desvio. Porém, a conta da sonata de Oliveira e Costa vai ficar com o povo português, via CGD. O sistema financeiro foi transformado em grande Dona Branca e a economia num grande casino que está a cair de podre.
Oliveira e Costa após se demitir do “seu” banco, divorciou-se por mútuo consentimento da mulher com quem vivia há 40 anos e, generosamente, doou toda a sua fortuna a tão devotada esposa. Bonito gesto. Não foi preciso aplicar o novo estatuto do divórcio recentemente aprovado pelos socialistas. Durante 10 anos passeou-se olimpicamente sem que os reguladores tomassem cuidados. Ele, tomou-os.
O que virá ainda a lume? Será que os produtos tóxicos vindos dos EUA não contaminaram outros bancos nacionais como se diz? Não sabemos, porque o segredo nesta altura é negar ao máximo as evidências. A situação apresenta contornos perigosos e está a tocar na economia real.
Não havendo sistema financeiro a funcionar (agravado pela falta de credibilidade, face à vilanagem cometida pelos seus responsáveis), retrai-se o consumo. Com a queda do consumo, as empresas produzem menos e como consequência diminuem a sua mão-de-obra, logo, mais desemprego.
É crucial responsabilizar os seus autores, que são os banqueiros e quejandos, pondo-os na cadeia, ou será que, mais uma vez a culpa vai morrer solteira? Se não for feito, não aprendemos nada com esta vilanagem desregulada iniciada nos EUA.